Depois de animar o mercado com a promessa de cortar gastos, a entrevista completa do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, publicada nesta quinta-feira (29) pelo jornal O Globo, trouxe mais um sinal de alento, que mantém a bolsa estável (+0,11%) e o dólar em baixa (0,67%, para R$ 5,217).
Neste momento, o mais importante é harmonizar política fiscal e monetária - disse Haddad, acrescentando que teve um "diálogo maduro" com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, sobre a necessidade de conciliação entre as duas estratégias.
O Brasil tem histórico ruim nessa área. Em governos do PT - especialmente no primeiro mandato de Dilma -, o BC elevava o juro para conter a inflação - política monetária contracionista - e a Fazenda seguia elevando gastos - política fiscal expansionista. O mesmo ocorreu ao longo de todo este ano, com Copom elevando e mantendo a taxa Selic alta enquanto o governo Bolsonaro elevava gastos sem parar com finalidade eleitoreira.
Ter consciência de que essa dualidade é danosa para a economia, porque na prática uma anula a outra, é um bom ponto de partida, tanto que o investidores e especuladores seguem de bom humor. É evidente, também, que só a prática garante o efeito pretendido. Para lembrar, graças à autonomia do BC, Campos Neto segue no cargo até o final de 2024.
— É a primeira vez que um presidente vai assumir e que o presidente do Banco Central não é da escolha dele. Vamos conviver dois anos com o Roberto Campos. Como vamos harmonizar? Na técnica. É preciso mostrar tecnicamente que há uma política fiscal consistente para que a política econômica tenha o mesmo objetivo. Isso é possível, já fizemos no passado. Roberto Campos demonstrou nas primeiras conversas conosco uma abertura de diálogo maduro e é o que nós precisamos — disse Haddad.
Em seguida, perguntado sobre se o juro em 13,75% não é uma "excrescência", como caracterizou André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real que integrou o grupo temático da economia na transição, seguiu na disciplina verbal:
— Eu faria mal, se como ministro da Fazenda, fizesse avaliação da política do Banco Central. O que está acontecendo é uma construção institucional inédita. O cenário de que eu emita juízo sobre o trabalho do Roberto e ele sobre mim pela imprensa vai provocar exatamente aquilo que eu quero evitar. Vou levar à consideração do Banco Central o nosso plano, que tem como premissa essas variáveis que eu estou te dizendo. Eu devo fechar metas já para o ano que vem, tenho apenas que fechar com a minha equipe.