Do dólar à bolsa, passando pelos juros futuros e até cotações de ações específicas, tudo se mexeu para pior nesta sexta-feira (3). No fechamento, o dólar subiu 2,03%, para R$ 5,184, na mesma direção dos juros futuros, que avançam cerca de 0,2 pontos percentuais.
Mas toda essa reação em cadeia é atribuída, de forma simplificada, a uma expressão usada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se referir ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto: "esse cidadão".
Embora seja a expressão mais discutida nas mesas de operações desta sexta-feira (3), é claro que, em si, não tem nada de ofensivo ou depreciativo. Mas agravou a percepção da entrevista em que Lula admite rever a autonomia do BC ao final do mandato de Campos Neto:
— Quero saber do que serviu a independência do Banco Central. Eu vou esperar esse cidadão terminar o mandato dele para fazermos uma avaliação do que significou o banco central independente.
A manifestação é vista como uma reação de Lula ao duro comunicado do BC publicado na quarta-feira (1º), que de forma indireta atribui a manifestações do presidente a "elevação do custo" do combate à inflação. Analistas menos suscetíveis ponderam que não haveria razão para reação mais forte porque o presidente não atropelou ritos nem ameaçou quebrar contratos.
No entanto, ao contrário da revelação do ensaio de golpe revelada pelo senador Marcos do Val na véspera, as palavras de Lula "fazem preço". O cenário externo também pesa, porque o mercado de trabalho aquecido nos Estados Unidos põe em dúvida a perspectiva de fim do ciclo da alta de juro no país.