Como se esperava, a decisão mais importante tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) nesta quarta-feira (1º) não foi traduzida em números - com alguma mudança no juro básico - mas em palavras.
Foi a primeira reunião em que a direção da instituição foi escolhida pelo governo anterior e ficará nos cargos - em trocas de mandatos anteriores já houve demora na substituição -, graças à autonomia do BC aprovada em 2021.
No comunicado que se seguiu, o BC respondeu, ao menos em parte, as expectativas do mercado de um comunicado "mais duro" - acentuando o risco inflacionário -, mas menos ácido do que parte dos economistas gostaria.
Embora tenha repetido muitos trechos de notas anteriores, no mais novo afirmou que "a conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária". E reiterou que "avalia que tal conjuntura eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas".
Ainda observou que "essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva", e até insinuou uma ameaça de voltar a elevar a taxa, ao ponderar que "segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação". É uma insinuação de que o juro pode voltar a subir, se for necessário.
As ponderações do BC brasileiro ocorreram depois da crítica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou a autonomia do BC de "bobagem" e reclamar da meta de inflação apertada, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Também houve afagos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que se comprometeu com a agenda de reformas proposta pela instituição, engavetada no governo anterior.
No mercado financeiro, havia expectativa de um comunicado mais duro depois que as expectativas de inflação no médio prazo subiram com a aprovação da PEC da Transição e sem avanços na definição da nova forma de controle de gastos públicos. Conforme o boletim Focus publicado pelo BC nesta semana, com projeções de cerca de uma centena de economistas do setor financeiro e consultorias econômicas, a projeção mais frequente do IPCA para 2024 subiu de 3,7% para 3,84%, enquanto a para 2025 ficou em 3,5%.
Na primeira "superquarta" do ano, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) confirmou a expectativa de redução no ritmo da alta da taxa básica por lá, com ajuste de apenas 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 4,5% e 4,75%.