A serenidade da ex-candidata do MDB à Presidência, Simone Tebet, gerou o adjetivo "tebetiano", brincadeira em alusão aos monges tibetanos que cultivam a paciência e a resiliência ante grandes desafios.
No final da manhã desta terça-feira (27), o futuro ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, fez um "anúncio", só que não era bem isso: disse que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, havia convidado Simone para o Ministério do Planejamento e que ela havia "sinalizado" que aceitaria.
Um dos episódios em que Simone se mostrou tebetiana foi no debate do primeiro turno na Globo. Jair Bolsonaro tentou usá-la para atingir o principal adversário. Sem se alterar, foi contundente no conteúdo, não na forma:
— Falta ao senhor coragem de perguntar isso ao candidato do PT, que segundo você está envolvido no caso, que está aqui, por que não pergunta ao candidato Lula sobre esse assunto? E vamos tratar do Brasil, dos reais problemas, vamos tratar do problema da fome que o senhor presidente da República diz que não tem porque é insensível, não conhece a realidade do Brasil ou não deve andar pelos grandes centros e ver nos semáforos crianças dormindo com fome e pedindo pelo amor de Deus um prato de comida.
Além da forma meio desengonçada de anúncio, o tom de Padilha chamou atenção. Está certo que a equipe de transição tem de atuar com um governo de direito que, de fato, resolveu encerrar o expediente antes do previsto, além de enfrentar ameaças de terrorismo, ainda que com "ineficiência técnica", como diagnosticou a Polícia Civil do Distrito Federal. Também é preciso admitir que a definição havia se tornado tão pública que era melhor confirmar de uma vez.
Mas a irritação nas respostas foi tão evidente que deu o que pensar. Padilha disse que o Programa de Parcerias em Investimentos (PPI) não estará dentro do Planejamento, como faria sentido que estivesse. Ficará na Casa Civil de Rui Costa, "como todos os programas essenciais" do próximo governo. A ministra do Planejamento, esclareceu, participará do comitê-gestor do PPI, mas não o terá sob sua gestão.
No reino das especulações, passariam para o Planejamento também Caixa e Banco do Brasil. Nesse caso, aliados de Simone se apressaram a informar que não se tratava de exigência da emedebista. No entanto, a expectativa de gerenciar o PPI era real. No atual governo, estava no superministério de Paulo Guedes. Faria muito sentido dividir as estruturas entre as fatias nas quais a Economia foi distribuída - Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
Da forma como está encaminhado, ficam sob o guarda-chuva da ex-candidata apenas IBGE, o instituto de pesquisas, e o Ipea, o de pesquisa econômica aplicada. Por várias vezes, Padilha insistiu que o Planejamento é um ministério "muito importante". Quando é preciso reiterar, é porque há dúvida. Com ideias liberais na economia - tanto que chamou Elena Landau para coordenar essa área em sua campanha -, Simone vai encarar uma Fazenda com certa inclinação desenvolvimentista. Vai precisar ser muito tebetiana.
Observação: há expectativa de que o anúncio desengonçado vire um mais organizado nas próximas horas. Caso ocorra, a coluna atualizará a nota.