A seis dias da troca de comando no Planalto, ainda não se sabe qual será o titular da última pasta da equipe econômica. A essa altura, está em jogo o "mistério do Planejamento" - não só o ministério.
Já foram confirmados Fernando Haddad no Ministério da Fazenda, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, para o Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e a economista desenvolvimentista Esther Dweck para a Gestão.
Essa definição ficou - desconfortavelmente para quem quer que venha a ser o escolhido - para a fase da negociação com os pastas dos partidos do Centrão que apoiaram o presidente eleito, seja na disputa ou na aprovação da PEC da Transição.
E resta outro mistério de igual proporção de importância: o destino da aliada no segundo turno Simone Tebet (MDB), que foi essencial para a eleição apertada de Luiz Inácio Lula da Silva. A ex-candidata do MDB já foi convidada para as pastas da Agricultura, do Meio Ambiente e do Turismo.
A primeira escolha de Simone era o Ministério do Desenvolvimento Social, da Família e do Combate à Fome, confiado a Wellington Dias (PT-PI). Ela recusou a Agricultura por estratégia, o Meio Ambiente por lealdade a Marina Silva, e o Turismo por motivos óbvios. A pasta de Cidades seria uma opção, mas essa estaria na conta dos aliados no Congresso.
Relatos de bastidores da escalação da Esplanada apontam resistência do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que não gostaria da sombra da possível adversária na eleição de 2026. Na semana passada, ao ser perguntado sobre a hipótese - na época em alta - de André Lara Resende no Planejamento, Haddad respondeu que falaria com Lula naquele mesmo dia sobre o assunto, o que deu gás à especulação. Agora, a hipótese parece estar definitivamente afastada.
Há sinais de que Simone aceitaria o Planejamento, desde que fosse mantido na pasta o Programa de Parcerias em Investimentos (PPI). Um dos problemas é que Haddad já anunciou que concessões seriam um de seus alvos na Fazenda. E, na transição, havia sinais de que o PPI iria para a Casa Civil de Rui Costa - o que faz pouco sentido.
A emedebista permitira a Lula fazer o que gosta: arbitrar decisões cruciais entre duas visões. Se o presidente eleito não confiar à uma das aliadas mais ativas no segundo turno uma missão à sua altura, em vez da generosidade que prometeu como atitude ao voltar ao cargo pela terceira vez, terá um episódio de mesquinharia no currículo.