Como indicava a apuração prévia ao jantar de Geraldo Alckmin (PSB) com empresários, não havia muitos rostos conhecidos do mundo dos negócios no encontro no Hotel Plaza São Rafael na noite de quarta-feira (19). Os que a coluna encontrou pediram para não serem citados, diante do clima polarizado da campanha.
Mas Alckmin manteve o discurso dirigido "à classe que produz", avançando em algum detalhamento da agenda econômica de um eventual governo da chapa que compõe com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O primeiro aceno foi o de uma "simplificação tributária":
— Em São Paulo, visitei três fábricas, uma com 50 trabalhadores, outra com 400 e outras com mais de mil. Em todas, ouvi a mesma coisa: é preciso fazer reforma tributária, senão a indústria não consegues sobreviver.
Esse seria o primeiro passo para a retomada do crescimento que, na agenda Lula-Alckmin, será inclusivo, com estabilidade de regras e com sustentabilidade. No capítulo ambiental, o candidato a vice-presidente afirmou que existe uma oportunidade enorme que pode ser aproveitada se o Brasil for "exemplo, não pária":
— O problema das mudanças climáticas é seriíssimo, mas vai abrir uma oportunidade. A produção se deslocou da Europa para os Estados Unidos, depois para a China. Agora, vai ser preciso fazer barato e bem, com menor emissão de carbono. Em qual país isso é possível? No Brasil. No mundo, se fala no eixo BIC, como a caneta: Brasil, Indonésia e Congo. Lula tem esse compromisso, e Marina Silva está conosco nesse trabalho — disse Alckmin.
Como sinal de que um eventual futuro governo não será apenas do PT, Alckmin citou temas pouco frequentes nos discursos do partido, como desregulação - citou a exigência de extintor de incêndio em carros individuais como regra sem sentido - e opções como parceria público-privada e concessões "para a economia voltar a bombar". E contou uma história que envolve o economista Pérsio Arida - um dos pais do Real que abriu voto para Lula - como ilustração:
— Ele foi passar um tempo em Londres e quis abrir uma empresa, a Arida Consultoria. Foi ver o que era preciso e ficou sabendo que bastava abrir um conta no banco que o Fisco já passava a acompanhar. Para fechar, bastava encerrar a conta.
Se não havia muitos empresários conhecidos, não significa que não havia público de negócios: Fátima Ali, vice-presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, liderava uma mesa com 10 comerciantes e empreendedores em áreas como engenharia e saúde que são "simpatizantes" de Lula e Alckmin. Disse que o grupo entregaria um documento ao candidato a vice pedindo que "se restabeleça a democracia de fato e diminua o racismo e a xenofobia". Ao todo, havia 30 mesas lotadas, o que significa 300 participantes, acima da expectativa dos organizadores.