Jochen Flasbarth é secretário do Ministério para Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Alemanha. Esteve na COP27, no Egito, onde se encontrou com integrantes da equipe de transição do novo governo brasileiro e debateu a retomada da cooperação na agenda ambiental entre os dois países. Alemanha e Noruega são as principais financiadoras do Fundo Amazônia, criado em 2008 para reunir investimentos para preservar a floresta. O fundo foi paralisado em 2019, após o governo Bolsonaro extinguir o Comitê Orientador do Fundo Amazônia (Cofa) e o Comitê Técnico do Fundo Amazônia (CTFA). À coluna, Flasbarth confirmou a intenção do governo alemão de voltar a contribuir. Também destacou que a prioridade inicial do país será efetuar a implementação dos valores atualmente bloqueados, antes de fazer novos aportes.
Como observou o processo eleitoral no Brasil?
O chanceler Olaf Scholz (chefe de governo da Alemanha) parabenizou Lula por telefone pela vitória como presidente no dia seguinte à eleição, e os dois líderes concordaram em aprofundar as relações entre os países. Estou ansioso para um diálogo sobre objetivos comuns para a cooperação por desenvolvimento sustentável e prioridades e estratégias do próximo governo. Há muitos desafios à frente, e estamos preparados para engajar em contatos próximos para apoiar os ambiciosos novos objetivos do Brasil.
Como espera que se desenvolva a cooperação entre Brasil e Alemanha daqui para a frente?
Temos muitos anos — décadas, na verdade — de sucesso na cooperação para o desenvolvimento sustentável, além de outras conquistas compartilhadas entre os dois países nas áreas de proteção florestas, energias renováveis e desenvolvimento urbano sustentável. Serão necessários grandes esforços serão necessários para interromper o desmatamento e fazer uma transformação econômica verdadeiramente sustentável, por exemplo. Estou muito animado para a continuação e intensificação da nossa cooperação, e estamos prontos para ajudar o Brasil a conquistar suas novas metas.
Espera que o Brasil volte a ter papel maior na luta global contra a crise climática?
Lula, entre outras coisas, já anunciou que intensificará a luta contra a crise climática, com o objetivo de chegar ao desmatamento zero na Amazônia, reforçando o controle e o monitoramento da floresta. Esses são sinais muito positivos, estou otimista que o Brasil irá desempenhar papel significativo na agenda internacional do clima, e que o novo governo irá introduzir novas políticas efetivas para interromper esse crescimento recente do desmatamento para fazer no país uma transformação econômica inclusiva que preserve o ambiente. Tive reuniões com integrantes do time de transição de Lula na COP27, que estão formando o novo governo, e tivemos conversas muito promissoras.
O governo alemão voltará a participar do Fundo Amazônia?
Desde a dissolução unilateral da estrutura de governança do Fundo Amazônia por parte do governo brasileiro em 2019, novos aportes não estão sendo implementados. O anúncio de Lula de que irá reforçar a luta contra o desmatamento é um sinal muito positivo, e estou convencido que o fundo é um mecanismo financeiro importante para apoiar os esforços do Brasil nessa luta. Estamos preparados para renovar nossa participação nas operações do Fundo Amazônia. Junto com a Noruega, compartilhamos a visão de que a reinstalação das estruturas de governança é necessária para a reativação do fundo. A decisão da suprema corte brasileira de que o Fundo Amazônia deve ser reativado até o final deste ano é muito encorajadora. Como ainda há um valor considerável destinado ao fundo que está bloqueado, a implementação desses valores será a prioridade inicial na retomada dessa participação.
* Colaborou Mathias Boni
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