O paulista Felipe Villela, que morou boa parte de sua infância e adolescência em Porto Alegre, é um dos sócios-fundadores da Fundação reNature, organização com sede em Amsterdã e que hoje tem 47 projetos espalhados pelo mundo no âmbito da agricultura regenerativa, sendo um destes no Rio Grande do Sul.
Villela, que em 2020 foi um dos brasileiros na lista Under 30 da Forbes (que aponta jovens promissores), esteve na COP27. Nesta quinta-feira (8), o ativista e empreendedor volta à Capital para palestra na 17ª edição do Painéis da Engenharia, com o tema COP27 – A Engenharia no Cenário das Mudanças Climáticas. O evento será às 6h no no auditório do Senge-RS, na Avenida Érico Veríssimo, 960.
Como você ingressou nessa área?
Estou envolvido com agroflorestas e agricultura regenerativa há cerca de 10 anos. Trabalho com produção de alimentos consorciada ao componente florestal, fazendo a inclusão de árvores na produção agrícola. Vendo os impactos do desmatamento desenfreado na Amazônia, comecei a pensar em formas mais inclusivas e sustentáveis de produção de alimentos. Entrei em contato com a agricultura regenerativa, que trabalha com cobertura de solo, plantio direto, transição de insumos sintéticos para biológicos e a diversificação de culturas. Decidi ir para a Holanda para me aprofundar e percebi que, no Brasil, estávamos muito atrasados nessa agenda, principalmente pelo grande potencial de produção de alimentos do país. Durante o curso que estava fazendo em Amsterdã, fundei a reNature com um sócio holandês, e desde então me dedico à fundação.
Que atividades a fundação desempenha hoje?
Começamos como fundação sem fins lucrativos, e no ano seguinte abrimos também a empresa. Hoje, somos uma organização híbrida. A fundação capta recursos para apoiar produtores rurais na transição para práticas mais sustentáveis, principalmente produtores pequenos e familiares que não dispõem desses recursos. A empresa apoia a cadeia de suprimentos de grandes companhias nessa transição, como Nespresso, Unilever, Danone e JBS, entre outras. Temos equipes na América Latina, na aÁfrica e na Ásia, o escritório fica em Amsterdã, mas nossas operações ficam no sul do globo, em países como México, Brasil, Quênia e Indonésia, principalmente pelo desmatamento e degradação do solo nesses locais, onde tentamos criar bons exemplos de produção regenerativa mostrando que, além de tudo, também é mais rentável trabalhar com a natureza do que contra ela.
Como funciona o projeto no Rio Grande do Sul, na Estância da Ponta, em Rosário do Sul?
A Estância da Ponta é uma fazenda de pecuária sustentável que faz integração entre lavoura e pecuária. Produz arroz e soja, que é utilizada como ração para gado. Hoje faz um trabalho de conservação de solo. Estamos buscando recursos para aumentar a produção regenerativa da propriedade, ou seja, diversificar a produção, não só com integração com a lavoura, também com a floresta. Plantamos diferentes espécies de árvores para criar um microclima mais favorável aos bois que estiverem pastando, criando um sistema silvipastoril. Isso traz diversos benefícios para o solo e para os animais, desde bem-estar até produtividade. A alimentação com capim é muito mais saudável do que a ração. Estamos nesse trabalho desde 2018.
Qual sua avaliação da COP27?
Participei falando de agricultura regenerativa. A conferência teve resultados positivos, como o novo fundo para danos e perdas. Isso beneficia os países mais vulneráveis aos impactos climáticos, que vão ter capital adicional para enfrentar as consequências negativas. Hoje já existem refugiados climáticos, que saem de diversos países por esses impactos climáticos que prejudicam ou até impedem sua sobrevivência. Também houve acordo para novos fundos dedicados à agricultura regenerativa, como um da Rockefeller Foundation, que destinará US$ 11 milhões. Ainda é um valor baixo, mas é um capital a mais. Enquanto nas outras COPs quase não se falava em segurança alimentar e produção de alimentos de forma sustentável, neste ano finalmente esses temas ganharam profundidade. Contudo, as grandes corporações e os governos precisam ser cobrados pela implementação dos acordos já feitos, pois é muito fácil todo mundo chegar em um palco mundial como a COP e assumir diversos compromissos. Precisamos ver esses resultados na prática.
* Colaborou Mathias Boni