As recentes declarações dadas por Luciana Santos — futura ministra de Ciência, Tecnologia e Inovações — sobre a revogação da extinção da Ceitec provocaram dúvida sobre o novo papel da estatal com sede na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre.
A coluna consultou Ricardo Reis, professor de Microeletrônica da UFRGS e um defensor da manutenção da estatal, sobre o que é preciso fazer para que a Ceitec solucione os problemas de abastecimento de chips no país.
— Não vai ser apenas uma empresa que vai solucionar os problemas de desenvolvimento da área de semicondutores no país. É preciso criar um programa nacional de micro/nanoeletrônica com investimentos importantes para que o Brasil seja um ator no cenário internacional em micro/nanoeletrônica. Um dos pilares-chave seria um investimento importante na formação de recursos humanos qualificados na área, e em quantidade. Quanto à Ceitec, ao contrário dos discursos de alguns, estava sendo um empresa de sucesso, com projetos de diversos chips relevantes para as necessidades nacionais — afirma Reis.
Segundo o professor, o fato de a Ceitec dar prejuízo se deve ao fato de a linha de chips CMOs, que estava prevista, nunca ter sido implantada:
— É como dizer que uma padaria dá prejuízo antes de os fornos começarem a produzir pães. E os recursos humanos da Ceitec foram motivadores da a vinda de duas empresas de projeto para Porto Alegre, a Ensilica e a Impinj.
O professor reconhece que o apoio é fundamental, mas não é o suficiente: é necessário promover investimentos na área:
— Esperamos que os recursos a serem investidos na área tenham outra ordem de grandeza em relação ao que foi investido até hoje. É importante que a Ceitec tenha uma presidência que tenha conhecimento do negócio microeletrônica. Cabe observar que a micreoeletrônica é fundamental não só para o desenvolvimento das tecnologias de informação, mas para a maioria dos ecossistemas, como agronegócio, transporte, saúde e medicina. Quase todos os setores da economia precisam de chips, e na maioria, de chips dedicados. Portanto, nenhum país pode ser um ator na economia internacional sem dominar o processo de transformar ideias em chips.
O Rio Grande do Sul, insiste Reis, é um polo nacional de microeletrônica atualmente. Por isso, espera que o governo estadual reeleito também reforce o segmento.
— Esperamos que, desta vez, o governo do Estado reconheça a importância da área para a economia gaúcha e também invista no setor. O Estado tem as bases para se consolidar como polo latino-americano em microeletrônica — finaliza.
A situação atual da Ceitec
Conforme a coluna registrou, o processo de desestatização da Ceitec está travado no Tribunal de Contas da União. Na época, o então secretário de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, afirmou que o motivo da paralização não são as irregularidades apontadas por técnicos do TCU ainda em 2020, mas o terreno na Lomba do Pinheiro onde a empresa foi construída. O espaço não é federal e nem faz parte dos ativos da companhia. Foi cedido por um agente privado à prefeitura de Porto Alegre, que agora contesta a titularidade da União.
* Colaborou Camila Silva