Sempre com objetivo de contemplar todos os lados de uma polêmica, a coluna abre espaço para a contestação de Ricardo Reis, professor de Microeletrônica da UFRGS, à frase do secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, de que a Ceitec "fabricava fuscas enquanto o mundo dirige BMWs".
Na avaliação de Reis, a comparação é "indevida":
— A comparação que faz de que a Ceitec fazia Fuscas enquanto o mundo usa BMW é totalmente indevida. A Ceitec vinha projetando chips em aplicações de grande relevância e importância. E cabe reforçar que ainda não era possível fabricar alguns tipos de chips porque os investimentos para concretizar a linha de fabricação CMOS nunca foram efetuados.
Conforme o professor, vários setores da economia podem ser providos com chips usando a tecnologia disponível na Ceitec.
— Nem todos os setores usam chips mais avançados. No setor automobilístico, muitos usam tecnologias maduras (de gerações anteriores) mais tolerantes a falhas, como a radiação cósmica que atinge os circuitos no nível terrestre. As pessoas ficariam surpresas se abrissem um carro de ponta no mundo. Não iriam encontrar chips de dimensões mínimas, como as dos microprocessadores da Apple. Mesmo um BMW não utiliza os de última geração.
Nesse universo, explica Reis, as gerações tecnológicas são definidas por "nodos". A mais recente é de 4 nanômetros (um nanômetro equivale a um 1 metro dividido por um bilhão). Mas não faz sentido, detalha, usar um chip dessa dimensões em carros ou elevadores, que são objetos grandes, tanto por desperdício — quanto menor, mais caro o chip — quanto por dispensar rapidez de resposta tão grande. A coluna quis saber de quanto seria o investimento necessário para colocar a linha de fabricação CMOS para funcionar na Ceitec, mas Reis preferiu não fazer nem uma estimativa aproximada:
— Depende muito do projeto, mas não precisaria chegar à casa de bilhões. Seria uma fração do custo da necessidade para uma fábrica de ponta. A ideia não seria competir com as grandes internacionais, ter no Brasil uma espécie de Embrapa da microeletrônica. Um dos problemas da Ceitec é que nunca recebeu recursos para ser completada, a linha de produção nunca foi termina. Outro é que nunca se soube, por exemplo, porque a Casa da Moeda não quis adotar o chip do passaporte desenvolvido aqui. Foi o único chip de passaporte desenvolvido no Hemisfério Sul.