
Quando se imagina que o delírio pós-eleitoral passou, sintomas reaparecem na pior forma imaginável. A sugestão de identificar negócios com a estrela vermelha do PT que circula no interior do Estado provoca vergonha e indignação.
Seus autores poderiam clamar ignorância sobre o significado de outras estrelas, essas amarelas, durante o nazismo? Se o assédio eleitoral era um sinal de retrocesso ao que há de pior na economia, esse novo surto excede em muito o ultraje provocado por tudo o que já ocorreu até agora.
Parte do eleitorado de Jair Bolsonaro (PL) que não se conforma com a derrota nas urnas fez bloqueios em rodovias, provocando prejuízos a boa parte da cadeia produtiva, ameaçou com locaute, ou seja, empresas que interrompem operações de forma voluntária, o que é crime. É bom insistir, é uma pequena parte, com comportamento de seita, que nem de longe representa os 58 milhões de votos dados ao atual presidente.
A marcação com estrelas amarelas antecedeu e serviu à Noite dos Cristais, um dos episódios mais brutais da história, quando nazistas destruíram lojas (daí os cristais, referência às vitrines) de judeus. Até a data é parecida: ocorreu entre 9 e 10 de novembro, só que em 1938. Além dos negócios, destruíram sinagogas e residências. Como já escreveu a colega Juliana Bublitz, essa é uma lição da história que se aprende, para que jamais se repita, na família, na escola, na história, na arte.
Se propostas de boicotes a negócios são ilegais uma democracia, a simples menção a esse tipo de "marcação" - com tão óbvios e conhecidos antecedentes - é repugnante, para usar uma palavra do português padrão. Ainda para lembrar, o passo seguinte do nazismo foi mandar judeus para os campos de concentração, onde foram mortos aos milhões.
A condenação ao nazismo se tornou um marco civilizatório. Em conjunto, a humanidade deplora que humanos possam ter agido com tamanhas violência e irracionalidade. Embora a repetição pareça apenas uma farsa, é preciso apontar sua inspiração e lembrar que foi passo a passo que o horror se impôs entre os anos 30 e 40 do século 20.
O que está disposto a fazer quem propôs que supostos eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva usem a estrela vermelha na porta da loja? Usar a suástica? Passou da hora de pôr fim a essa sucessão de absurdos. É preciso investigar e punir com severidade - necessariamente nessa ordem. E retomar a racionalidade o mais rapidamente possível.