Não é incomum ouvir que a explosão de casos de assédio eleitoral - quando empregadores querem determinar o voto dos empregados - é resultado da polarização da campanha eleitoral. Não é.
É sinal de retrocesso ao que há de pior na economia, seja o coronelismo da Velha República ou a escravidão até 1888. É um sinal de que o empregador se sente dono não só da força de trabalho, mas de todo o ser humano que lhe presta serviços em troca de um pagamento que deveria ser justo.
No mundo educado da gestão empresarial, o papel do líder foi mudando ao longo dos anos, sempre no sentido de atenuar a relação de poder assimétrica por definição. Na fase atual da evolução das relações entre capital e trabalho, o que está em alta é o perfil de líder inspirador, cujas características são ser sensível, empático (se colocar no lugar do outro) e inovador. Nada mais distante dos relatos assustadores de ordem para usar celular escondido no sutiã para registrar o voto.
Quantas décadas atrás o Brasil retrocede com essa proliferação de abusos? O chefe despótico, que podia humilhar seus funcionários em público, hoje enfrenta processos por assédio moral. Quando essa legislação se consolidou, os casos também explodiram, porque a percepção de que esse comportamento não era mais aceitável se consolidou.
Infelizmente, não é o que ocorre agora. Não há qualquer mudança legal para justificar que as queixas tenham mais do que quadruplicado em quatro anos. É o contrário: a falta de desestímulos legais ajuda na multiplicação dos casos. A maioria é resolvida com um "não é bem assim" ou com um termo de ajustamento de conduta (TAC). Para reduzir o abismo entre os grotões do coronelismo e os novos padrões de inovação aberta, economia colaborativa e engajamento de equipe, será preciso combater a prática como o que é: crime.