A crise no abastecimento de chips quebrou a cadeia de abastecimento global, complicou a produção de veículos no Brasil e abalou gigantes. Mas uma indústria eletrônica de Canoas passou quase sem sustos pelo processo.
O segredo da Full Gauge Controls, fundada em 1985 em Canoas, passa pela máxima de que o "just in case" (algo como "por via das dúvidas") substitui com vantagens o "just in time" (sistema de produção sem estoques). O resultado será fechar 2022 como o melhor ano da história da empresa.
— Cerca de 60% da nossa matéria-prima é importada, de Estados Unidos, Europa e Ásia, mas mantemos uma relação muito estreita com nossos fornecedores, com quem sempre temos previsões de compra com 18 meses adiantados, o que nos ajudou a estar preparados para enfrentar a pandemia e a crise internacional de logística com muita vantagem sobre o resto do mercado — relata afirma Rodnei Peres, diretor comercial da Full Gauge Controls.
Rodnei destaca que a fábrica de Canoas, onde trabalham cerca de 350 colaboradores, fechou apenas por cerca de 15 dias durante toda a pandemia, entre março e abril de 2020. Apesar de algumas das matérias-primas da empresa terem ficado mais caras nos últimos dois anos, devido à escassez provocada pela crise internacional, a produção só cresceu nesse período, sem ser prejudicada ou interrompida.
— Quando a pandemia chegou, já estávamos com esse colchão de 18 meses de adiantamento dos nossos insumos, estratégia que aplicávamos na produção desde 2010. Por isso, conseguimos atravessar esse período sem maiores sobressaltos, inclusive crescendo e lançando cerca de 10 produtos nos últimos dois anos — acrescenta Peres.
A Full Gauge produz controladores de temperatura, umidade, pressão e energia. Além de abastecer o mercado interno, exporta para mais de 80 países, com destaque para Estados Unidos, Colômbia, África do Sul, Alemanha e Índia. Também mantém filial em Atlanta e escritórios de negociação na Índia e no Oriente Médio.
Após o início da pandemia, ampliou a estrutura da fábrica em 2,1 mil metros quadrados, aumentando o número de colaboradores da equipe em mais de 10% somente em 2022. E ainda investiu R$ 10 milhões em novos equipamentos importados para formar mais uma linha automática de produção para montagem de circuitos eletrônicos.
Como resultado, a empresa teve em 2021 seu melhor ano até então, mas já foi superado até novembro deste ano. A previsão da Full Gauge é fechar o ano atual com alta de 11% no faturamento no mercado interno e 17% no mercado externo, além de continuar crescendo acima de dois dígitos por ano até pelo menos 2025.
— Assim como estávamos preparados para enfrentar a pandemia, também estávamos quando começou a guerra na Ucrânia para driblar as dificuldades que o conflito impôs no mercado internacional. Como a maioria das empresas do segmento não têm esse nível de preparação antecipada, nossa demanda cresce, pois o mercado já sabe que conseguimos entregar mesmo em períodos de dificuldade — complementa Rodnei Peres.
* Colaborou Mathias Boni
Leia mais na coluna de Marta Sfredo