Desde que não se cite a fonte, aliados do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva admitem que a "pedida" de até R$ 198 bilhões de gastos fora do teto no orçamento de 2023 é a famosa estratégia de pedir o dobro para levar a metade.
Parece a antiga definição desta Black Friday, que ofereceria produtos pela metade do dobro. O argumento de quem assegura que o valor não chegará a tanto é o passado sindical de Lula.
Nessa lógica, a ponderação é a seguinte: ao lidar com o Congresso, da mesma forma que fazia com os empregadores na mesa de negociação salarial, Lula não pede os hipotéticos "cem" que deseja, por saber que vai levar "cinquenta". A frase não é aplicada a valores da PEC, mas indica uma aproximação razoável. A intenção, portanto, seria pedir "duzentos" para garantir "120".
Essa estratégia também permitiria dar ao Congresso a oportunidade de sair bem, barrando os excessos do novo governo. Para o futuro Executivo, seria uma derrota com gosto de vitória. Lula costuma dizer que a vitória tem muitos pais, mas a derrota é órfã. Outro indicativo nesse sentido foi dado pelo virtual futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao afirmar que o "desfecho da PEC será "dialogado".
Nesta sexta-feira (25), uma das ideias cogitadas para acelerar a tramitação da PEC da Transição é buscar uma fusão com a proposta encampada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que prevê autorização para gastos extras, mas dentro do teto, de R$ 78,6 bilhões. A intenção é buscar um meio-termo entre essa alternativa, considerada insuficiente por futuros integrantes do governo, e a original que chega a R$ 198 bilhões, apontada como excessiva por boa parte do Congresso, dos economistas e do mercado.