Em pleno feriado, Pérsio Arida, um dos mais notáveis integrantes da equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, explicitou algumas de suas ideias em Nova York, onde participa, nesta terça-feira (15) do Lide Brazil Conference, organizado pelo grupo que voltou a ser comandado pelo ex-governador de São Paulo João Doria Jr.
Arida começou a palestra afirmando que o principal desafio do Brasil é crescer "de forma inclusiva e sustentável". Ao detalhar a primeira parte, afirmou:
— A inclusão social depende, no longo prazo, de educação, que assegura igualdade de oportunidades. Quando se fala em desigualdade social, frequentemente se olha a de resultados, que depende de esforço, talento. Mas o importante é que a desigualdade no acesso a oportunidades termine. No curto prazo, temos de atender a essa população marginalizada, sem inserção no mercado de trabalho, passando fome. E temos de crescer com programas sociais, emergenciais, por período razoável de tempo.
A manifestação de Pérsio Arida é importante, neste momento, porque dos quatro integrantes conhecidos do grupo temático de Economia - os demais são André Lara Resende, Guilherme Mello e Nelson Barbosa -, ele é o mais "fiscalista". Entre aspas, porque é fácil perceber que é um fiscalismo abrandado pela preocupação social.
— O Brasil tem decepcionado em crescimento, em inclusão e em preservação do meio ambiente. É perfeitamente possível reverter esse quadro — assegurou o economista, já assumindo um discurso tranquilizador de autoridade econômica.
Mesmo ressaltando que o Brasil vai enfrentar "cenário externo adverso causado pela recessão norte-americana que se avizinha e pelo aumento da taxa de juro nos Estados Unidos", que impacta toda a atividade econômica mundial, mais dificuldades da China, Arida deu sua receita de solução, que passa por três reformas: abertura e integração com mundo, reforma do Estado e a tributária.
Das três, a menos mapeada é a de Estado, na descrição do economista bem diferente da reforma administrativa que chegou a avançar no governo Bolsonaro. Ao descrever como deve ser feita, Arida deu pistas de uma tese que percorre há anos a agenda de economistas que buscam conciliar responsabilidade fiscal e social:
— Nada é tão permanente quanto um programa temporário. O Brasil tem camadas de gastos que perderam o sentido, ou estão mal focalizados e podem ser reduzidos sem prejudicar a qualidade do serviço. Precisamos de uma revisão de gastos independente, para verificar se fazem sentido, inclusive os tributários (renúncia fiscal). Se deixaram de fazer sentido, devem ser eliminados.
Arida ainda observou que o Brasil tem um desafio ambiental que pode se transformar em enorme oportunidade:
— O Brasil deve sair da posição de pária e se tornar um membro ativo da melhoria do meio ambiente e da causa da sustentabilidade global.