Não é preciso gastar muitas linhas de texto e, portanto, a paciência do leitor, para dizer que o maior desafio do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva Duas na Presidência da República será buscar a pacificação nacional possível, depois que o bangue-bangue com motivação política dominou os dois últimos finais de semana no Brasil.
O segundo maior será a economia. Como a coluna já detalhou, o rombo na contas de 2023 está, seguramente, na casa da centena de bilhões de reais. A dúvida é de quantas centenas são. Seria um problema para qualquer um dos candidatos, no caso de Lula há mais dúvidas sobre qual será a posição de um Congresso com expressiva bancada de oposição.
Uma das primeiras tarefas do petista será preencher o "cheque em branco", expressão que se popularizou diante do certo suspense criado pela campanha em torno de sua pauta econômica.
É bom lembrar que Lula fez questão de deixar alguns pontos bem claros: a extinção do teto de gastos, embora com promessa de compromisso fiscal, e a intenção de estimular o desenvolvimento por meio de bancos públicos e da Petrobras. Nenhuma ajudou a conquistar votos de setores resistentes a seu nome, embora possam ter animado a base fiel.
Na última semana, havia esquentado a especulação sobre seu ministro da Fazenda - há indicativo de que a superpasta da Economia será desmembrada. No mercado, ponteia o nome de Henrique Meirelles, até porque, nos últimos dias antes do segundo turno, já dava entrevistas como possível sucessor de Paulo Guedes. Na semana passada, Lula definiu o ministro da área como "alguém com inteligência política, compromisso social e com senso de responsabilidade fiscal".
Uma alternativa mais citada no meio político do que no econômico é Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde de Lula. O nome de um infectologista nas finanças parece estranho, mas é bom lembrar que Antonio Palocci, primeiro ministro da Fazenda do petista, também era médico, no caso sanitarista.
Além dos dois, há especulações sobre os ex-governadores petistas Wellington Dias e Rui Costa, Fernando Haddad, o coordenador do programa, Aloízio Mercadante, e até o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Não seria totalmente inesperada a indicação de André Lara Resende, um dos "pais do Real", que nos últimos anos tem criticado visões excessivamente fiscalistas da economia. O que sim surpreenderia seria a indicação do ex-ministro Pedro Malan, especulação que colheu no mercado.
É uma definição crucial, não só para a economia, mas para o país. O nome ajudará a entender se o terceiro mandato de Lula será mais ou menos "frentista", ou seja, com as forças que se somaram em uma frente política no segundo turno. Quanto mais cedo for anunciado, menor será o estresse de uma transição que promete ser tensa.
Compromissos de Lula na economia assumidos na Carta ao Brasil de Amanhã
1. No desenvolvimento econômico, repete a intenção de reunir os 27 governadores para definir a retomada de obras paradas e definir prioridades. O documento afirma que "os bancos públicos, especialmente o BNDES, e empresas indutoras do crescimento e inovação tecnológica, como a Petrobras, terão papel fundamental neste novo ciclo".
2. Menciona uma "Nova Legislação Trabalhista que assegure direitos mínimos – tanto trabalhistas como previdenciários – e salários dignos", elaborada após "amplo debate tripartite (governo, empresários e trabalhadores)". Pretende criar o Empreende Brasil, com crédito a juros baixos para micro, pequenas e médias empresas.
3. Promete salário mínimo forte, com "crescimento todo ano acima da inflação", o Novo Bolsa Família, com R$ 600 permanentes mais R$ 150 para cada criança de até 6 anos, o Desenrola Brasil, de renegociação para inadimplentes, isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, com reforma tributária. E é a mesma promessa feita por Jair Bolsonaro, em 2018, e nunca cumprida.
4. Afirma que buscará "transição energética e ecológica para uma agropecuária e uma mineração sustentáveis, para uma agricultura familiar mais forte, para uma indústria mais verde". Assume "desmatamento zero na Amazônia e emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica", sem definir data.
5. Acena com a volta do Minha Casa Minha Vida, sem mencionar meta. Quer um um Novo PAC "para reativar a construção civil e a engenharia pesada" para habitação, transporte e mobilidade urbana, energia, água e saneamento.
6. Para reindustrializar o país, sinaliza com estímulos a indústrias de software, defesa, telecomunicações e outros setores de novas tecnologias. Aponta "vantagens competitivas que devem ser ativadas" nos complexos de saúde, agronegócio e petróleo e gás. Promete "atenção especial" para micro, pequenas e médias empresas e startups.
7. Na política externa, renova a aposta na integração regional, no Mercosul, no diálogo com os Brics, países da África, mas inclui União Europeia e Estados Unidos, que tiveram pouca atenção nos dois primeiros mandatos, para exasperação de diplomatas.