Se o foco mudou para troca de acusações e tom subiu muitos níveis de rispidez em relação ao último debate do primeiro turno, o debate entre os candidatos ao Piratini desta sexta-feira (14), na Rádio Gaúcha, não trouxe esclarecimentos sobre como o próximo governador vai lidar com um orçamento que já seria desafiador e se tornou totalmente imprevisível depois do corte de alíquotas de ICMS sobre gasolina, energia e telecomunicações.
No mundo mágico da campanha eleitoral, é possível construir estradas, equipar casas e escolas em um mandato que começa com um buraco nas contas de R$ 3,7 bilhões. Pode ser que seja menor, mas ninguém sabe exatamente quanto será.
Em um raro momento em que foi perguntado sobre a compensação devida ao Estado pelo governo federal, do qual fez parte, Onyx Lorenzoni (PL) afirmou que "a compensação está na lei". O problema é que a lei não dá qualquer segurança.
Tanto que uma das mais abrangentes avaliações sobre os riscos fiscais no horizonte do Planalto em 2023 prevê desembolso de pouco mais da metade do valor devido: R$ 57 bilhões de R$ 100 bilhões para todos os Estados. Eduardo Leite (PSDB) pouco avançou no tema, afirmando apenas que "tem de haver compensação" porque houve "redução forçada" de ICMS.
Em outro momento, ao prometer um plano logístico para recuperar as hidrovias - mais do que necessário no Rio Grande do Sul, diga-se de passagem -, Onyx foi cobrado sobre de onde tirar dinheiro.
– Vou acabar com a EGR – foi a resposta.
Ainda que fosse possível demitir os 43 funcionários concursados da autarquia, haveria também uma pequena perda de receita. Portanto, acabar com a EGR, por mais que faça sentido, não renderá recursos suficientes para bancar a recuperação das hidrovias. Convocados por ouvintes a falar sobre o desenvolvimento do Estado, os candidatos mencionaram vagamente "tirar pedras do caminho" (Onyx) e desburocratização incipiente, em apenas 50 dos 497 dos municípios gaúchos (Leite).
Agora que não há mais divergência, já que ambos prometem não privatizar o Banrisul - no Piratini, não há garantia de que essa posição será mantida - cabem cobranças mais específicas sobre a gestão do banco estadual. Leite acusou Onyx de querer "botar a mão no dinheiro dos clientes", referência à intenção do adversário de usar a reserva do Banrisul. Lembrou que bancos estaduais já "quebraram por ingerência política", citando o exemplo do Besc, federalizado em Santa Catarina. Onyx não recuou: afirmou que o governo de Leite deteriorou o valor de mercado da instituição e apontou maus resultados recentes.
Do ponto de vista da realidade orçamentária, o ponto alto do debate foi o trecho em que os candidatos debateram a questão do funcionalismo. Leite apontou "concessões a diversos grupos de servidores públicos" feitas pelo adversário, mencionou o risco de o Estado "quebrar novamente" e perguntou o custo das medidas, que embutiram o "direito de receber na aposentadoria o mesmo salário".
Onyx respondeu que "saber fazer gestão" como em empresas privadas, com "prêmio de desempenho e metas", vai fazer a diferença e acabou afirmando que não vai adotar medidas que contrariem "o que a Lei de Responsabilidade Fiscal determina". É o mínimo que os gaúchos esperam. Além de regras, o limite do candidato, uma vez eleito, não será o tempo do debate, mas o tamanho do buraco das contas do Estado.