Saiu uma porta estreita, entrou por outra mais larga. O executivo Wilson Ferreira Júnior, que presidiu a Eletrobras estatal, mas deixou o cargo com críticas à demora na privatização e foi para o comando da Vibra, sucessora da BR, volta à sua cadeira.
Na sexta-feira, foi eleito CEO da Eletrobras privatizada, em reunião do conselho de administração que se seguiu a assembleia geral dos novos acionistas da companhia de energia. Uma de suas tarefas será domar os "jabutis" que o Congresso repassou à empresa, com apoio do governo Bolsonaro.
Ferreira Jr. só toma posse no dia 20 de setembro, conforme comunicado da Eletrobras. Não, não é uma homenagem do executivo a sua trajetória gaúcha, embora seja a data farroupilha. É mera coincidência. Sua passagem pelo Rio Grande do Sul foi marcada pela formação da RGE, a partir do momento em que passou a ser controlada pela CPFL, ainda antes da aquisição e fusão com a antiga AES Sul. Hoje, a companhia responde por dois terços da distribuição de energia no Estado.
Ferreira Jr. havia comunicado sua saída da Vibra no final de julho. Quando deixou a Eletrobras, havia alegado motivos pessoais, mas a afirmação de que a privatização não seria aprovada enquanto Bolsonaro não se envolvesse diretamente na aprovação caiu mal no Planalto. Menos de um mês depois, o presidente foi pessoalmente entregar o texto ao Congresso. Agora, caberá a Ferreira Jr. domar os jabutis que preveem a construção de cinco termelétricas a gás em Estados onde o gás ainda não chega. A medida, alertaram várias entidades do setor elétrico, vai aumentar o custo da energia para consumidores e indústria.
Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, em dezembro passado, Ferreira Jr. afirmou que as térmicas "talvez não fosse a coisa mais otimizada a fazer e vai custar mais caro, sem dúvida nenhuma". Conforme o executivo, abastecê-las com GNL (gás natural liquefeito) seria "um desafio". De dezembro até agora, o preço desse tipo de combustível disparou com a guerra entre Rússia e Ucrânia.