Não foi durante a Cúpula das Américas, quando, também inesperadamente, o presidente Jair Bolsonaro declarou em discurso oficial que havia ficado "maravilhado" com o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Depois da conversa cujo conteúdo ainda não é totalmente conhecido, Biden prestou um grande serviço ao colega brasileiro: sugeriu uma forma, mais eficiente e mais justa, de como lidar com a explosão do preço dos combustíveis.
Neste final de semana, o preço médio da gasolina nos Estados Unidos passou de US$ 5 por galão, pela primeira vez na história do país. Convertido em reais, equivaleria a R$ 6,59, ainda mais baixo do que o preço médio no Brasil na semana passada: R$ 7,25, conforme pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
Na sexta-feira (10), Biden afirmou que a ExxonMobil "ganhou mais dinheiro do que Deus neste ano". O lucro da petroleira privada americana foi de US$ 5,5 bilhões, o equivalente hoje a cerca de R$ 27,5 bilhões. Imagine se o presidente americano visse o lucro da Petrobras em igual período: R$ 44 bilhões, ou US$ 8,8 bilhões pelo câmbio mais recente, bem acima da ExxonMobil (como a coluna já havia relatado, clique aqui para conferir). E é bom lembrar que, desse lucro fabuloso, a Petrobras pagou à sua controladora, a União, dividendos de R$ 24,6 bilhões.
Embora Biden possa ter confundido Deus com Petrobras, não se limitou a reclamar de uma companhia privada sobre a qual não tem qualquer ingerência, natural ou artificial. Deu uma ideia: defendeu um aumento temporário de impostos às petrolíferas. É uma boa dica para o colega brasileiro.
Em vez de desbastar o famoso "cipoal tributário" do Brasil, o governo Bolsonaro escolheu não tentar resolver o problema, mas compartilhar a responsabilidade com os Estados, por meio de mudanças no ICMS. A essa altura, ninguém sabe as novas regras serão de fato aprovadas, se serão efetivas — há temor de que uma eventual baixa nos preços na bomba dure poucas semanas depois de uma operação complexa e cara para os contribuintes., porque poderia haver novo reajuste nas refinarias.
Seria muito mais simples e efetivo se fizesse o que o americano sugere. Os lucros estratosféricos das petroleiras em momento de guerra viraram escândalo mundial. O preço desse energéticos pressiona vários custos na cadeia produtiva e no orçamento das famílias. Ameaça desarranjar economias em todo o planeta. Por isso, é quente o debate internacional sobre um imposto excepcional sobre esses lucros, para que as empresas de fato mostrem sua responsabilidade social. É uma hipótese.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.