Diante de líderes das Américas na manhã desta sexta-feira, 10, o presidente Jair Bolsonaro se defendeu de acusações a respeito do desmatamento da Amazônia, disse estar "maravilhado" com o americano Joe Biden e reiterou as pautas ideológicas do bolsonarismo como defesa da família, dos militares e de liberdades de expressão e religiosa.
Criticado pela comunidade internacional durante os primeiros anos de seu mandato pelo afrouxamento dos controles de desmatamento e aumento nos índices de queimadas na Amazônia, Bolsonaro usou boa parte do discurso para falar da preservação da Floresta. "Somos um dos países que mais preserva o meio ambiente e suas florestas. Mesmo preservando 66% de nossa vegetação nativa e usando apenas 27% do nosso território para pecuária e agricultura somos uma potência agrícola e sustentável. Não necessitamos da região amazônica para expandir nosso agronegócio", afirmou.
Desde que Biden tomou posse, o governo brasileiro foi pressionado a mudar sua política ambiental e se comprometer com ações concretas para redução do desmatamento. Em abril do ano passado, Brasília fez uma inflexão na sua retórica ambiental durante a Cúpula Climática promovida por Biden e, desde então, os americanos têm elogiado nos bastidores o compromisso do governo brasileiro sobre o assunto.
"Os nossos desafios são proporcionais ao nosso tamanho. Lembro que a área da região amazônica equivale à toda Europa Ocidental", justificou Bolsonaro, que afirmou que o Código Florestal deveria "servir de exemplo" a outros países.
Fã declarado do ex-presidente americano Donald Trump, Bolsonaro repetiu - desta vez em frente aos demais presidentes e diplomatas da região - que ficou "maravilhado" com Joe Biden. "A experiência de ontem (quinta, 9) como a de Biden foi simplesmente fantástica. Estou realmente maravilhado e acreditando em suas palavras e naquilo que foi tratado reservadamente", disse. O presidente contou aos presentes que, além da bilateral com o americano, manteve uma conversa reservada com Biden. Bolsonaro também quis demonstrar que os dois mantiveram proximidade e afirmou que ficaram sentados em uma distância inferior a um metro e "sem máscara", apesar de não estar vacinado contra covid.
O presidente dos EUA tentou se manter o mais distante possível de Bolsonaro desde que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2020. O encontro entre os dois em Los Angeles foi costurado a contragosto por ambos. Biden se curvou à ideia de convidar Bolsonaro para um encontro bilateral diante do risco de sediar uma Cúpula das Américas esvaziada e depois de assistir a aproximação de Bolsonaro e de Alberto Fernández (Argentina) a Vladimir Putin, na iminência do início da guerra na Ucrânia.
"Senti muita sinceridade e muita vontade (do Biden) em resolver os problemas que fogem, obviamente, da total responsabilidade de cada um de nós, mas juntos poderemos buscar alternativas para pôr um fim nesse conflito. Eu acredito que todos trabalhando dessa maneira atingiremos os nossos objetivos, em especial o governo americano", emendou. Apesar da alegada boa conversa com Biden, Bolsonaro faltou ao jantar oferecido pelo americano aos líderes estrangeiros na noite de quinta-feira.
O presidente brasileiro também incluiu no discurso falas que reforçam as bases ideológicas de seu governo, como costuma fazer desde nos pronunciamentos perante os presentes na Assembleia-Geral da ONU. "Atualmente vemos ataque claro às liberdades individuais", afirmou Bolsonaro. "Afirmamos que temos um governo que acredita em Deus, respeita os seus militares, é favorável à vida desde sua concepção, defende a família e deve lealdade a seu povo", disse.
Biden não estava no local. O governo americano foi representado pelo Secretário de Estado, Antony Blinken, enquanto o presidente dos EUA fazia, fora dali, um discurso sobre inflação e economia doméstica no porto de Los Angeles.
'Busca incansável'
Em discurso na plenária da Cúpula das Américas, em Los Angeles, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que autoridades do País têm trabalho "desde o primeiro momento" para localizar o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira. "Desde o último domingo, quando tivemos informação que dois cidadãos desapareceram na região do Vale do Javari, desde o primeiro momento, as nossas forças armadas e PF têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas. Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida", disse Bolsonaro.
Reportagem desta sexta-feira, 10, publicada no Estadão mostra que, passados cinco dias do desaparecimento da dupla, o governo federal ainda não enviou para a região do Vale do Javari a Força Nacional de Segurança, ao contrário do que costuma ocorrer em casos que envolvem regiões com pouca estrutura de segurança. Além disso, a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH), Ravina Shamdasani, afirmou nesta sexta-feira, 10, que o governo brasileiro foi "lento" para reagir ao caso.
O desaparecimento do jornalista e do indigenista na Amazônia foi um foco de tensão na passagem de Bolsonaro pelos EUA. Além do protesto de ativistas na frente do hotel do presidente, parlamentares do partido democrata e ativistas queriam que Biden cobrasse Bolsonaro sobre posicionamento a respeito do caso.
O ministro da Justiça, Anderson Torres, teve reuniões com o governo americano e britânico sobre o desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira na Amazônia. Em Los Angeles, Torres se reuniu com o assessor para meio ambiente do governo Biden, John Kerry, e com diplomatas britânicos. Britânicos e o americano pediram que o Brasil esgote as possibilidades na investigação.