O Brasil vive uma corrida para ver quem foge mais rápido da responsabilidade de criar um amortecedor ao aumento dos combustíveis, mas essa é só a parte mais visível e sensível das consequências da alta do petróleo.
Com a cotação se aproximando outra vez de máximos históricos, há risco de alta de gasolina e diesel, mas também de maior pressão sobre preços de fertilizantes, produtos de limpeza, roupas, batata frita e até maquiagem.
Embora a maior parte do petróleo ainda seja usada para fazer combustíveis como gasolina e diesel, há outras frações destinadas a substâncias diferentes. Uma das principais coadjuvantes é a nafta, que dá início a toda cadeia produtiva do plástico.
Isso significa embalagens (polietileno), potes (polipropileno), peças de veículos (elastômeros) e encanamento doméstico (PVC) mas também prosaicos saquinhos laminados (polipropileno biorientado) que garantem a crocância de salgadinhos. Sim, o caminho é este: petróleo, nafta, resina, saquinho, batatas.
Na maquiagem, a principal aplicação é a da vaselina (sim, feita de petróleo), na base dos batons. Mas também vêm do líquido escuro e viscoso ingredientes para perfumes (argh!), ceras de depilação, xampus e condicionadores, entre outros produtos. Como o nome faz supor, os famigerados "petrolatos" (óleo mineral, vaselina, parafina), alvo de campanhas para retiradas desses produtos, também vieram de um barril.
Uma das pressões vai parar no roupeiro: quase todas as fibras sintéticas, de roupa de cama ao blusão de malha, vêm do poliéster. E adivinha de onde vem o poliéster? Pois é, do petróleo. O caminho é parecido com o do saquinho de batatas: petróleo, nafta, polietileno (uma resina específica), poliéster. Vale o mesmo para náilon e acrílico, o que faz o petróleo chegar a carpetes, tapetes, cortinas.
Para lavar tudo isso, se usa detergentes e desengordurantes com alto teor de derivados de petróleo em suas fórmulas, via tensoativos sintéticos, que são substâncias anfipáticas (até dá pra ler do jeito que parece, mas as letras estão no seu devido lugar: a palavra designa moléculas que, em parte, se dissolvem em água, parte não, e estão em quase todos os sabões).
E se você estiver lendo isso mascando um chiclete, pense duas vezes: também já foi um líquido escuro e viscoso. Chicletes são feitos de elastômeros, um tipo de borracha sintética. Inclusive, a matéria-prima é produzida aqui no Rio Grande do Sul, em uma das poucas unidades do polo petroquímico de Triunfo que não pertencem à Braskem, a Arlanxeo, associação entre a alemã Lanxess e a saudita Aramco. Há alguns anos, a unidade passou a usar etanol de cana-de-açúcar como matéria-prima. Mas como etanol também é combustível, se o preço do chiclete subir, não estranhe.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.