A investigação aberta para apurar acusações de assédio sexual contra o agora já ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, reforçou a posição do ministro da Economia, Paulo Guedes no governo Bolsonaro.
Durante a longa quarta-feira (29), enquanto o Brasil discutia em que horário Guimarães deixaria o cargo e sua substituta, Daniella Marques, era conhecida muitas horas antes que a saída se confirmasse, surgiram especulações de que o Centrão queria fazer o sucessor.
Mas não levou. Pela terceira vez seguida, quem emplacou um ex-assessor em altos cargos no governo Bolsonaro foi o ministro da Economia, Paulo Guedes. Em 4o dias, indicou o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, até então seu assessor especial de Estudos Econômicos, o presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade, até então secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital e, agora, a nova presidente da Caixa, Daniella Marques, antes secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia.
Para um ministro que já precisou ser confirmado no cargo várias vezes ao longo de 2021 e até já confirmou uma tentativa de substituição, é uma notável recuperação de prestígio, ainda que tenha sido Guedes o responsável pela indicação de Guimarães para o cargo. É um apadrinhamento que, neste momento, queima as mãos do ministro da Economia, porque o rastro das denúncias de assédio moral e sexual de Guimarães começa a alcançar sua atividade na iniciativa privada, antes de chegar ao governo e é tratada como "de conhecimento geral" no segmento.
Até por isso, a indicação de Daniella Marques é quase uma admissão de que a Caixa enfrenta problemas de assédio que vão além do presidente. Além de atuar com Guedes ainda na iniciativa privada, na Bozzano Investimentos — onde inclusive foi diretora de compliance, área que deve garantir o cumprimento de regras — comandava no governo um programa nacional de empreendedorismo feminino. Portanto, é uma mulher identificada com causas de gênero.
Como a Caixa tem um processo semelhante ao da Petrobras, que inclui um comitê de elegibilidade, só deve tomar posse na próxima semana. A expectativa é de recomponha a diretoria com ao menos mais três substituições, todas contagiadas pelo modus operandi do ex-presidente. Na carta pública de renúncia, Guimarães afirmou que "as acusações noticiadas não são verdadeiras" e "não refletem a minha postura profissional e nem pessoal".