Demorou, mas surgiu um número sobre o fenômeno da "grande desistência" à gaúcha: de janeiro a março, houve 323 mil pedidos espontâneos de demissão no Rio Grande do Sul, equivalente a 19% do total nacional de 1,7 milhão de pessoas que decidiram largar seus empregos em período de desocupação ainda muito alta.
É o terceiro maior peso entre os Estados, atrás somente de Santa Catarina (24,7%) e Paraná (20,5%), ou seja, se concentra na Região Sul, onde o desemprego é menor. Como a coluna já registrou, a saída voluntária de postos de trabalho formais atingiu recorde histórico no Brasil, com salto de 70% no primeiro trimestre deste ano.
O fenômeno foi identificado ainda no ano passado nos Estados Unidos, mas com mercado de trabalho em fase de pleno emprego (desocupação abaixo de 3%). No Brasil, a taxa está acima de 11% e o percentual de trabalhadores com carteira assinada no setor privado atinge mínimos históricos (38,1% no primeiro trimestre, bem longe do pico de 43% alcançado em 2014).
A ocorrência do mesmo tipo de fenômeno em situações praticamente opostas é atribuída à troca de postos de trabalho obtidos às pressas durante a pandemia, quando ocorreram muitas demissões por decisão das empresas e a transformações de comportamento provocadas pela pandemia.
Claro, está mais restrito a profissionais que têm condições financeiras para bancar esse tipo de opção. Mas afeta as estratégias de recursos humanos das empresas. Conforme a headhunter Erica Castelo, CEO da The Soul Factor, especializada em encontrar talentos para organizações multinacionais, digitais ou em transformação digital, a "clausura obrigatória" na pandemia e as mudanças de hábito provocaram reflexão adicional sobre valores pessoais, família, trabalho, e como equilibrar melhor toda essa equação.
— As mudanças de cenário entre os profissionais mais qualificados significam que esse movimento acaba sendo forte na alta renda. A tecnologia, que possibilita o trabalho à distância, ajuda sobretudo nas atividades relacionadas ao lado administrativo dos negócios, como incluindo tecnologia, comunicação, pesquisa, não as mais operacionais, como as atividades de chão de fábrica.
Segundo Erica, a onda de pedidos de demissão afeta as áreas de alojamento e alimentação, seguida de atividades administrativas, informação e comunicação e atividades profissionais, científicas e técnicas, chegando a cargos de melhor remuneração.