Quando até benefícios básicos, como plano de saúde e vale-transporte, não são fáceis de garantir, há outra lista que lembra as famosas exigências de camarim de popstars: carro blindado, aulas de ioga, sessões de massagem e seguro contra processo.
São os pedidos de altos executivos para escolher em que empresa vão trabalhar, conforme pesquisa realizada pela gaúcha Evermonte, especializada em recrutamento e seleção de profissionais disputados .
Criada em 2018, em Porto Alegre, por egressos da multinacional de RH Michael Page, a Evermonte já nasceu especializada em recrutamento de líderes para transformação digital, conta Guilherme Abdala, sócio e cofundador da empresa. Isso não significa foco em profissionais só da área de tecnologia, ao contrário. No ano passado, abriu unidade em Santa Catarina e, em abril, vai inaugurar escritório em São Paulo.
— Vimos uma oportunidade na transformação cultural e digital, que não se resumia a mandar currículo e fechar vaga. Era preciso ajudar empresas em transição por meio do recrutamento de lideranças. O mercado abraçou esse conceito e crescemos.
Diante da surpresa da coluna com os "novos benefícios", como a Evermonte chama o pacote top, Abdala explica que se trata de um grupo que está na ponta da pirâmide profissional:
— É a nata dos executivos, que podem escolher para onde vão e têm muitas oportunidades. Por isso, é um desafio para as empresas se manterem atrativas. É outro trabalho que estamos preparando, o índice de atratividade das empresas. Nisso, pesam questões como modalidade de trabalho, localidade da empresa. Esses benefícios novos e diferentes surgem para tentar atrair as melhores pessoas. E têm custo menor para as empresas. Se der R$ 10 mil a mais no salário, vai custar R$ 20 mil. Os benefícios custam os mesmos R$ 10 mil.
Os dados fazem parte da edição 2022 da Pesquisa de Remuneração Diretoria Executiva, que a Evermonte liberou para os leitores da coluna (para acessar, clique aqui). Foram ouvidos cerca de 2,8 mil executivos de 25 Estados. Os "novos benefícios" ainda aparecem em percentuais discretos (entre 4% e 5%) perto de outros mais consolidados, como auxílio moradia para transferidos a outras cidades (74%) e auxílio a custos para trabalho remoto (32%).
A coluna quis saber se há sinais no Estado e no país do que, em países desenvolvidos, vem sendo chamado de "great resignation" ou "big quit" — onda de pedidos de demissão que se caracterizou no ano passado e foi acentuada pela volta ao trabalho presencial.
— Temos visto algo em grandes centros, mas não na proporção que ocorreu lá fora. Há muita discussão sobre o fim do ciclo do home office. Muita gente dizia que nunca mais se voltaria ao formato anterior, mas nunca concordamos e agora estamos vendo as empresas chamando de volta. Alguma flexibilidade vai ficar, mas a volta ao trabalho presencial já está ocorrendo. É algo que ainda está se configurando, de forma diferente em cada empresa, cada contexto. Em empresas familiares, é mais difícil de emplacar home office de forma definitiva. É mais comum em multinacionais, com cultura mais preparada para esse tipo de flexibilidade — respondeu Abdala.