Na contramão dos pares da Região Sul e colado nas dificuldades nacionais. Esse é o resumo do desempenho gaúcho no quarto trimestre de 2021 quando o assunto é o mercado de trabalho. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral, divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao contrário de Santa Catarina e Paraná, em igual período, o RS patinou em taxa de desocupação, população desocupada e a ocupada.
Nesses segmentos, constata o coordenador da Pnad Contínua por aqui, Walter Rodrigues, na comparação com o Brasil, onde a taxa de desocupação continua maior do que em 2019, o Rio Grande do Sul manteve trajetória similar e passou de 7,3%, há três anos, para 8,1% no último trimestre de 2021. Por outro lado, quando o referencial é o sul, ao qual pertence, o Estado exibe movimento inverso dos verificados em Santa Catarina e Paraná.
Ambos não apenas retomaram seus patamares pré-pandemia como também garantiram à média dos três Estados da região a menor taxa de desocupação no período, com 7,8% (7% no Paraná e 4,3% em Santa Catarina).
— O RS, assim como o Brasil, teve uma taxa de desocupação menor do que em 2020, como era de se esperar, pois foi o pior ano da série histórica. O problema é que, na comparação entre Brasil e RS, em 2021, a taxa de desocupação continua maior do que em 2019, o que não aconteceu com Santa Catarina e Paraná, por exemplo, onde já é menor do que há três anos — pontua Rodrigues.
Igual tendência emerge na avaliação dos dados da população ocupada. Enquanto, no RS, o montante cai 2,5% na relação entre 2019 e 2021 (de 5,82 milhões para 5,67 milhões de pessoas empregadas), no Paraná e em Santa Catarina, o índice sobe 2,5% e 1,3%, respectivamente.
Por consequência, o Rio Grande do Sul possui, agora, 500 mil pessoas desocupadas. Esse contingente é 9,9% superior ao da pré-pandemia (455 mil). Já Santa Catarina e Paraná, outra vez, destoam da performance gaúcha e exibem retração dos níveis de desocupação, de 20,3% e 3,3%, respectivamente.
Setores
Conforme levantamento de Rodrigues, o quadro é um reflexo do que acontece em setores relevantes para a geração de vagas. Dos nove grupamentos analisados no Rio Grande do Sul, apenas três exibem melhores desempenhos em 2021 do que em 2019. Entre eles, o destaque fica por conta da agricultura e pecuária, com alta de 11,18% sobre 2019 e 676 mil pessoas empregadas, o que se explica, em parte, pela safra recorde do ano passado.
Em contrapartida, segmentos que costumam concentrar volumes mais elevados de contratações continuam com freio puxado. É caso do comércio (mais de 1 milhão de pessoas), da indústria (814 mil pessoas) e da construção (351 mil pessoas), que ainda exibem curvas decrescentes no período, de 2,2%, 10% e 10,4%, respectivamente.
Ritmo menor e contorno de precariedade
A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e especialista em mercado de trabalho Lúcia Garcia explica que o nível ocupacional e a geração de novas vagas no Rio Grande do Sul estão ligeiramente acima do incremento na quantidade de pessoas que buscam emprego.
Neste caso, acrescenta, o que diferencia o desempenho gaúcho dos demais Estados do Sul é que ambos geram postos de trabalho de maneira mais folgada e acima dos patamares necessários para contemplar o regresso das pessoas que deixaram o mercado de trabalho em razão da pandemia, e, agora, estão de volta.
Por outro lado, Lúcia afirma que o fato não se relaciona com maior ou menor pujança da taxa de engajamento das pessoas no mercado de trabalho. Pelo contrário, segundo ela, o Rio Grande do Sul amplia “modestamente” a sua população economicamente ativa e, por correlação, a força de trabalho.
— Nossas fragilidades estão cada vez mais visíveis, e os dados não mentem. Há uma quebra na ocupação do RS, e isso também é percebido na qualidade dos postos de trabalho gerados — argumenta.
Como consequência imediata, a especialista identifica que o crescimento ocupacional do Rio Grande do Sul, além de menor ritmo, exibe contornos de precariedade. Isso acontece, segundo ela, porque boa parcela do crescimento está concentrada nas zonas de informalidade.
De acordo com a economista do Dieese, o quadro faz com que a renda também acabe prejudicada. Embora caia menos do que no restante do país (10%), no Rio Grande do Sul a queda constatada foi de 7,4%, no compasso em que as ocupações geradas não atendem às expectativas do pré-pandemia. Em Santa Catarina, por exemplo, a população ocupada cresceu 6,4%, entre 2020 e 2021, a força de trabalho, 5,2%, e o emprego com carteira assinada, 8,7% – no RS, apenas 2,5%.
— Crescimento com características de informalidade susta as expectativas e demonstra que o mercado de trabalho do RS está mudando, sim, mas para pior. O Estado é mais lento, tem menos fôlego, acompanha uma tendência nacional e se descola da Região Sul. O RS piora na comparação com ele mesmo e se torna decadente por esse ponto de vista. Evidentemente, ainda estamos distantes de regiões como a Nordeste, sabida e historicamente com mercados muito mais degradados, mas a trajetória atual é essa — lamenta Lúcia.