No início, foi o verbo: ao ser indicado ao Ministério de Minas e Energia, Adolfo Saschida, até então assessor especial do Ministério da Economia, disse que iria encaminhar a privatização da Petrobras.
Depois, houve uma entrega simbólica ao ministro da Economia, Paulo Guedes, do pedido para incluir a estatal no Programa de Parceria em Investimentos (PPI), primeiro passo para a efetiva venda, e na segunda-feira (30) enfim houve a solicitação formal. E agora? Conforme a Petrobras, o PPI anuncia sua decisão na quinta-feira (2/6).
A data foi informada pela própria Petrobras em comunicado ao mercado (leia íntegra abaixo). Nos meios acadêmicos, nas consultorias especializadas e na maior parte do mercado financeiro, prevalece o ceticismo. O movimento de venda do controle da União sobre a maior empresa do Brasil é considerado eleitoreiro. Não no sentido de responder a um anseio nacional pela privatização da atividade petroleira no país, mas para chancelar o discurso do presidente candidato à reeleição de que não é responsável pela política de reajuste de preços da estatal.
Até por ser tomada em tempo recorde, não se deve duvidar da decisão do PPI: claramente, será favorável. Mas favorável a quê? A pedir estudos, tudo indica. Nem um dos mais fervorosos defensores de privatizações no Brasil, o ex-secretário de Desestatização, Salim Mattar, acredita que a venda possa ser feita em um governo Bolsonaro. À coluna, afirmou que "vai surgir um líder" para concretizar a iniciativa.
Mattar surpreendeu ao dizer que "a modelagem é o que menos importa", mas quem vê a privatização como possibilidade, desde que com responsabilidade, avalia que esse é um dos pontos cruciais de um eventual processo. Uma recente pesquisa de opinião sobre o tema trouxe outra surpresa: 67% dos brasileiros apoiariam a privatização da Petrobras se houvesse garantia de redução de preços de combustíveis.
Se, com controle da União, é difícil mexer na fórmula de preços que garante lucros estratosféricos para a petroleira, como esperar que, privatizada, a companhia abra mão de acompanhar os preços internacionais? Isso só se tornaria uma expectativa, e ainda vaga, se houvesse competição. E é aí que mora o desafio: a modelagem. Por enquanto, nem especialistas ousam cravar sugestões sobre a forma ideal de venda. E recomendam: é preciso, inclusive, fazer mais de um estudo para verificar perdas e ganhos com a eventual venda.
A íntegra da nota da Petrobras
A Petrobras informa que recebeu hoje ofício do Ministério das Minas e Energia, notificando que encaminhou ao Ministério da Economia (ME) solicitação de qualificação da Companhia no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos, vinculado ao ME, com o objetivo de iniciar os estudos específicos de avaliação para a desestatização da empresa.
Ademais, o ofício informa que a deliberação pelo Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos ocorrerá em 02 de junho de 2022.
Fatos julgados relevantes serão oportunamente comunicados ao mercado.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto de petróleo cru quanto de derivados, como o diesel. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia que funciona como um seguro contra perdas.