Há poucas certezas sobre o que, exatamente, o bilionário Elon Musk veio fazer no Brasil e como foi articulado seu encontro com o presidente Jair Bolsonaro. Só há uma garantia: imagens valiosas para a campanha do candidato à reeleição com um líder global, um visionário e um bilionário, os três em um.
O que mais vai ficar? O dono da Tesla, da SpaceX e da The Boring Company, além de candidato à compra do Twitter, disse que veio a negócios: o lançamento de seu sistema de satélites Starlink para conectar 19 mil escolas de áreas rurais e um sistema de monitoramento ambiental da Amazônia.
O formato da visita foi inusual: não foi antecedido por anúncios oficiais, não ocorreu no Palácio do Planalto e não foi concluído com informações detalhadas sobre qual é o objetivo da aproximação entre Musk e o governo brasileiro. Há polêmica sobre se o lançamento de satélites de baixa órbita, do tipo que a SpaceX inclui no sistema Starlink, precisa ou não de licitação. Mas não se sabe nem se haverá algum contrato.
Afinal, parte do alvo de uma suposta parceria, seja negocial ou benemerente, em tese, está previsto inclusive nos contratos de concessão da tecnologia 5G no Brasil. Parte dos recursos do leilão era destinada exatamente para conectar escolas e levar internet à Amazônia.
Até agora não se sabe, por exemplo, se Musk, o homem mais rico do planeta, vai vender ou doar seus equipamentos ao Brasil. Nem depois da entrevista coletiva, cheia de informações vagas. Na falta de respostas objetivas, Bolsonaro recorreu à velha fórmula do "namoro que vai acabar em casamento". Mas fotos e vídeos estão feitos.
O encontro em um hotel-fazenda da grife Fasano, em Porto Feliz (SP) teve presença de cerca de cem empresários. Por comentários desses participantes, soube-se que houve informações sobre os preços dos serviços do Starlink: era mesmo uma reunião de negócios. É claro que o excêntrico Musk sabe que também está emprestando sua imagem a um chefe de Estado polêmico. Próximo do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, o bilionário tem pontos de conexão com Bolsonaro.
A dúvida é: quantos? No encontro, surgiram declarações de integrantes do governo de que, com o monitoramento do Starlink, o mundo ficaria sabendo da "realidade" sobre a situação da Amazônia, especialmente no que diz respeito ao desmatamento.
Frustrado porque a Tesla, fabricante de carros elétricos, não apareceu em índice que reconhece boas práticas ambientais e sociais enquanto seis petroleiras foram listadas, espinafrou o conceito ESG (governança corporativa, social e ambiental). Disse que é uma "fraude transformada em arma por falsos lutadores por justiça social". Mas será que estaria disposto a apoiar desmatamento e destruição da Amazônia? Se gostaria de estar na lista em que a Tesla não entrou, é pouco provável. De seu ponto de vista, fez marketing. E sabe perfeitamente que também contribuiu muito para o de Bolsonaro.