Embora houvesse expectativa de encolhimento, a queda na produção industrial brasileira veio bem acima das expectativas em janeiro: 2,4% em relação ao mês anterior. É a maior baixa para o mês desde 2018 (-2,6%), conforme o IBGE.
Como neutralizou parte do crescimento de 2,9% em dezembro de 2021, o resultado mais recente fez o indicador recuar para um nível mais distante do registrado antes da pandemia. Entre as causas da queda, está a onda da variante Ômicron, que mesmo sem restrições compulsórias, afetou a produção, como mencionaram os técnicos do IBGE nesta quarta-feira (9) e já havia sido apontado pela Federação das Indústrias do Estado (Fiergs).
Além disso, contribuíram para o mau resultado a falta de insumos para a cadeia produtiva e até tempestades severas que ocorreram no início do ano. E esse resultado, é bom lembrar, foi obtido antes do ataque da Rússia à Ucrânia, que embute risco de maior dificuldade na rede de suprimentos, conforme projetou à coluna Cláudio Frischtak, da consultoria InterB, especialista em negócios internacionais.
Na semana passada, a Fiergs havia informado queda no índice de produção, conforme a Sondagem Industrial de janeiro, para 44,9 pontos, o pior resultado do mês dos últimos quatro anos. Ficou 3,4 pontos abaixo da média histórica para o primeiro período do ano. Ao comentar as causas, o presidente da entidade, Gilberto Porcello Petry, havia diagnosticado:
— A nova onda de Covid acabou afetando não só a linha de produção, com colaboradores afastados, como também freou um pouco o mercado.
Nesta semana, a Fiergs apresentou novo levantamento, segundo o qual praticamente nove em cada 10 empresas gaúchas (87,2%) sofreram impactos da onda de covid-19 e influenza no primeiro bimestre de 2022.
— A covid foi sentida na produção das indústrias, que tiveram que afastar trabalhadores, freando um aumento do desempenho, provocado também pelas incertezas — reforçou Petry.
Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em relação à situação de um ano atrás, "não há ambiguidade: o setor está em retrocesso". No início de 2021, na onda mais grave da covid em número de mortes, havia restrições. Neste primeiro bimestre, quase nenhuma. Ainda segundo o Iedi, "é bem provável que a indústria tenha um ano recessivo". É o que a coluna sempre sustentou: o que afeta a atividade econômica não são as medidas de contenção, mas a doença.