Nas redes de ódio, é comum ver uma acusação dirigida a jornalistas de várias especialidades, especialmente em notas e reportagens que mencionam dados negativos: "É culpa de quem mandou ficar em casa, a economia a gente vê depois".
A coluna não costuma responder, porque agressão não favorece o diálogo, mas gostaria de fazer uma ponderação: dá orgulho ter defendido que era preciso ficar em casa no início da pandemia.
Em primeiro lugar, porque foi a proteção coletiva que impediu a pandemia de provocar um nó nos serviços semelhante ao que se viu no Exterior na virada de 2021 para 2022. Com um número crescente de pessoas em quarentena em vários países, várias empresas, especialmente as aéreas, enfrentaram problemas para manter escalas de serviço. Isso agora, com a variante Ômicron, que, apesar de maior poder de contágio, aparentemente desenvolve doença com menor gravidade.
Em segundo lugar, porque o governo brasileiro foi – e continua sendo, agora com a imunização das crianças – tão refratário à vacina que, sem a proteção do isolamento social, os estragos da covid-19 seriam ainda maiores do que o desastre que temos no Brasil, com 619.245 mortes até segunda-feira (3), mesmo com 67% da população com ao menos duas doses (ou dose única). Nossa sorte é que a população, mesmo a que elegeu esse governo, pensa mais na sua própria sobrevivência e no bem comum do que parte de seus representantes e correu para se vacinar assim que foi possível.
Em terceiro lugar, porque a coluna conversou com dezenas de empresários que tiveram melhora significativa em seus negócios porque... as pessoas ficaram em casa. Do setor imobiliário, que passou a vender apartamentos e casas maiores, no Litoral e na Serra, ao segmento de móveis, alentado pela necessidade de criar home offices ou simplesmente ter mais conforto no espaço que marcou boa parte desses quase dois anos, passando pelo ramo de utilidades domésticas, que teve expansão com novas necessidades ou mais capricho nas de toda a vida. Então, se o "fique em casa" prejudicou, de fato, alguns segmentos, também impulsionou outros.
Em quarto lugar, porque empresas economizaram muito dinheiro durante o período em que chegaram a ter a maior parte de suas operações desenvolvidas de forma remota. Isso abriu espaço, inclusive, para uma das maiores demonstrações de filantropia empresarial da história do Brasil, um país que cultiva pouco essa característica. A coluna procurou registrar todas as ações voluntárias em favor do combate à pandemia no período.
Nesse momento em que o governo Bolsonaro, pela enésima vez, afunda no negacionismo ao adiar sem argumentos racionais a vacinação de crianças entre cinco e 11 anos, colocando em risco a retomada das aulas com toda a segurança, é preciso entender que a pandemia, infelizmente, não acabou. Ao menos no Brasil, não há evidências científicas de que é preciso adotar medidas restritivas de circulação coletiva (ficar em casa), mas há muitas, inclusive práticas, que recomendam evitar aglomerações e manter uso de máscara e álcool gel.