No meio da guerra e com os níveis de incerteza subindo para o infinito, o dólar fechou em R$ 5,028, outra vez muito perto dos R$ 5. É o nível mais baixo desde que quase derrubou essa barreira psicológica em 23 de fevereiro, quando fechou em R$ 5,004.
Antes disso, cotação menor havia sido registrada em 30 de junho de 2021, há oito meses.
No Exterior, diante dos cenário de guerra e insegurança, a moeda americana vem ganhando força frente a várias outras denominações. Então, por que o real é uma exceção?
Como a coluna já havia registrado, o principal motivo é a alta do juro no Brasil, que permite aos investidores externos ganharem dinheiro mesmo se nada de muito bom ocorrer. É o diferencial de juro: enquanto nos Estados Unidos a taxa de referência é de 0,25% (por enquanto), no Brasil está em 10,75% — 43 vezes maior. Outro é a rotação dos investidores provocada pela sinalização ainda cautelosa de elevação do juro do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), como sustentou à coluna o economista Roberto Padovani.
Mas e nesta quinta-feira (3), o que faz o dólar voltar a se aproximar dos R$ 5? Segundo Alex Agostini, economista da Austin Rating, o combustível do dia é um relatório do Credit Suisse que incentivou seus clientes investir no Brasil. No texto, o banco suíço dá a Brasil, México e China a classificação de overweight (não, a tradução não é 'sobrepeso'). Equivale a uma recomendação para elevar a média de exposição.
Conforme Andrew Garthwaite, estrategista-chefe global do banco suíço, o Brasil tende a entrar em "ciclo virtuoso" quando o real se aprecia, pois a a moeda tem um papel relevante na redução da inflação e do juro, o que melhoraria a situação fiscal do país. Será que o ministro da Economia, Paulo Guedes, cuja receita para o Brasil era "juro baixo e dólar alto" pode ficar contrariado e querer expulsar o Credit Suisse, como fez com o FMI?. Esperemos que não.
Para não deixar a coluna sozinha no ceticismo, Agostini observa:
— Falar em baixa de inflação e juro neste momento não faz muito sentido, porque estamos em processo de aceleração com os índices já muito altos. Mas acabou ajudando a valorizar o real.
Quem sabe o estrategista-chefe do Credit Suisse esteja dando uma contribuição ao Brasil e fazendo o que o mercado chama de "profecia autorrealizável": projetando apreciação do real, leve a moeda nacional a realmente recuperar terreno perdido nos últimos anos.