Se não tivesse sido anunciada pelo próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, a coluna ia desconfiar que a saída do Fundo Monetário Internacional (FMI) do Brasil era fake news (ou mentira, em bom português).
Na quarta-feira (15), Guedes afirmou que a missão do FMI seria "dispensada". Nesta quinta-feira (16), a instituição confirmou que está fechando seu escritório no Brasil.
— Vou dizer, até com delicadeza, que nós estamos dispensando o FMI. Eles estão aqui há bastante tempo, havia bastante desequilíbrio. E eu assinei: pode voltar, pode passear lá fora. Vieram aqui para prever uma queda de 9,7%, e a Inglaterra ia cair 4% (em 2020). Nós caímos 4% (3,9%, conforme o IBGE), a Inglaterra, 9,7% (9,9%, conforme o ONS, equivalente britânico do IBGE). Achamos melhor eles fazerem previsões em outro lugar — afirmou Guedes em encontro com a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), sob aplausos da plateia.
A coluna tem visão crítica sobre as previsões do FMI. Costumam vir com atraso e distorções em relação a ferramentas nacionais mais rápidas e precisas, como o Boletim Focus. Mas fazer projeções não é a principal atividade da instituição. Para lembrar, a crise de 1997/98 fez o então presidente Fernando Henrique Cardoso pedir ajuda de US$ 41,5 bilhões (em valores da época). Como havia eleição em 2002, o fez com bênção do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que havia construído sua carreira política liderando manifestações sempre com cartazes pregando "Fora FMI".
Esse é o principal papel do FMI: atuar como domador de crises nacionais, inclusive para que não evoluam a ponto de contagiar todo o planeta. Foi assim na sucessão de crises financeiras do final da década de 1990: a asiática, a russa e a brasileira. Depois de "engolir" o FMI que tanto criticou, Lula ajudou a pavimentar o caminho da independência das ajudas, que sempre vinham condicionadas a arrochos que afetavam a população, acumulando reservas cambiais no Banco Central (BC).
Então, é verdade que o Brasil não precisa mais do FMI, mas essa autonomia se deve ao arquirrival do governo Bolsonaro, inclusive na eleição do próximo ano. É difícil imaginar como a "dispensa" da missão possa ajudar o candidato, já desgastado no meio financeiro. Mas a responsabilidade de um país que segue dentro do planeta — conforme as mais recentes checagens da coluna — é contribuir para a estabilidade dos demais.
No comunicado em que confirma sua saída, o FMI expressa dúvidas sobre a continuidade do trabalho conjunto com o Brasil: "Esperamos que a alta qualidade do envolvimento do corpo técnico do Fundo com as autoridades brasileiras continue, na medida em que trabalhamos de perto para apoiar o Brasil no fortalecimento de sua política econômica e configurações institucionais".
Se não tivesse sido anunciado por Guedes, mesmo a coluna, que já espera pouco do ministro, teria apostado em fake news. Agora, pode colocar no seu currículo ter cumprido um sonho que até Lula abandonou: mandou o FMI embora do Brasil.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo