Depois de um leve avanço de 3,6% nas vendas de veículos no país em 2021 — no Rio Grande do Sul, houve queda de 3% —, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projeta reação neste ano, com nova alta de 8,5%.
Também prevê o fim dos carros populares e vê risco de novos impactos no fornecimento de semicondutores por reflexos de novas paradas ou reduções de ritmo de produção provocadas pela Ômicron.
— Se não resolver o problema da reforma tributária, trava o país de vez, e não só no setor automotivo, mas toda a economia. É um ano eleitoral, esperamos volatilidade, mas não muito maior do que atual — disse o presidente da entidade, Luis Carlos Moraes, em conversa com jornalistas nesta terça-feira (18).
Apesar da descrença generalizada sobre o avanço de uma reforma polêmica como a tributária em ano eleitoral, Moraes sustenta que deveria ser um ano de trabalho normal no Congresso. A Anfavea vê necessidade de fazer frente ao que chama de "sequelas da pandemia" na economia: inflação alta, elevação de juro, "bagunça" no sistema global de produção e na logística.
— Ainda não temos estatística, mas a Ômicron afeta a produção, porque desacelera o ritmo, principalmente por falta das pessoas contagiadas. O absenteísmo aumentou em tudo, inclusive nas fábricas e nos fornecedores, do Brasil e lá de fora. É uma dificuldade adicional no início de ano sobre a qual ainda não temos dimensão — afirma.
Sobre os anúncios de encerramento da produção de modelos básicos como Gol e Fiat Uno no final de 2021, que projetaram o fim dos carros populares, Moraes confirmou a tendência, argumentando que ocorre por novas demandas dos consumidores, como a conectividade, e exigência de incorporação de tecnologias de segurança e controle de emissões:
— Carro popular é coisa do passado.
O presidente da Anfavea disse que a pandemia trouxe muitos aprendizados para o segmento, inclusive a se comunicar melhor com os funcionários e como atender os clientes de forma mais eficiente. Uma das mais lições mais importantes está levando à ação:
— Estamos trabalhando junto para ver como se pode atrair esse segmento de semicondutores para o Brasil. Neste ano, o tema ainda vai ser desafiador, talvez em proporção menor do que em 2021, mas ainda assim um desafio.
Disse que as montadoras estão fazendo um "trabalho enorme" de negociação com sistemistas ou diretamente com fábricas de chips. Lembrou que existem modelos de veículos que exigem até 2 mil circuitos integrados, usados em sistemas que garantem de eficiência energética a segurança veicular.
— É um desafio contínuo, para toda a indústria de transformação e especialmente para o setor automotivo. A Ômicron é menos letal, mas muito mais contagiosa, o que afeta o sistema de produção no mundo. Nossa previsão não inclui esse eventual impacto adicional. Esperamos que seja um pico, volte e se estabilize, se não em janeiro, ao longo do ano.