Os espanhóis do grupo ACS/Cobra, que querem fazer um investimento de R$ 6 bilhões em Rio Grande, intensificaram as visitas à cidade com a aproximação da data da audiência pública do licenciamento ambiental do projeto, marcada para o dia 22.
O projeto prevê uma termelétrica alimentada por gás natural liquefeito (GNL), terminal de regaseificação em terra e um pequeno gasoduto no porto de Rio Grande. Nos últimos dias, assim como o petróleo, o preço do GNL desinflou no mercado.
Há poucos dias, representantes do grupo fizeram várias apresentação do projeto a entidades e instituições. Depois de visitar a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e secretários de Estado, Jaime Llopis, vice-presidente para a América Latina do Grupo Cobra, esteve na Câmara de Comércio e na Universidade Federal de Rio Grande (Furg).
Llopis avisou que existe uma plano de "atuação imediata" após a emissão das licenças ambientais e afirmou que a prioridade na contratação de pessoas será para Rio Grande e região. Na próxima segunda-feira (6), está prevista uma visita técnica prévia à audiência pública do dia 22.
Conforme o prefeito de Rio Grande, Fábio Branco, há expectativa de que a Fepam decida sobre a licença em até 15 dias depois da audiência pública. Segundo Branco, Llopis também se reuniu com o Ministério Público Federal na cidade, que contestou o projeto no passado e provocou a mudança do terminal flutuante para o o terrestre.
— O Cobra trouxe grande qualidade e capacidade técnica para o projeto. Confio na Fepam, então se houver o licenciamento, pode se tornar um projeto transformador para o Sul do Estado. É nossa única chance de ter mais gás no curto prazo. Vai gerar mais energia, que poderá estimular outros investimentos na região — afirma Branco.
O último obstáculo a superar para o início das obras é a outorga, cassada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A cassação foi suspensa judicialmente, mas ainda será preciso um acordo com a Aneel para assegurar que a licença ambiental será o "fato novo" cobrado pela agência para modificar essa decisão. Caso a UTE Rio Grande de fato saia do papel, será o maior empreendimento próprio do grupo na América Latina e o maior investimento privado no Estado dos últimos anos.
Quem são os espanhóis
O Cobra faz parte de uma companhia espanhola, a ACS, considerada a maior construtora do mundo fora da Ásia. Tem também sob seu guarda-chuva a Cymi, parte do consórcio Chimarrão, que executa obra de transmissão de energia de R$ 2,4 bilhões no Estado, em parceria com o fundo canadense Brookfield. O Cobra é especializado no método BOT (build, operate and transfer), ou seja, constrói, opera por algum tempo e depois vende negócios industriais. No Brasil, é responsável pelo EPC (responsável pela obra completa) da térmica Marlim Azul, em Macaé (RJ), que vai usar gás do pré-sal. Os investimentos de R$ 700 milhões são de Pátria Investimentos, Shell e Mitsubishi Hitachi Power Systems (MHPS).
A novela da UTE Rio Grande
O projeto da UTE Rio Grande foi esboçado ainda em 2008, no governo Yeda Crusius. A usina tem capacidade para gerar 1.238 megawatts (MW), suficiente para abastecer cerca de 30% do consumo no Estado, com investimento de US$ 1,1 bilhão. Teve geração futura de energia comprada em leilão público em 2014 e deveria ter começado a operar em 2019.
Prevê recebimento de gás natural liquefeito (GNL) por navios, que se acoplariam a uma unidade de regaseificação em terra que devolveria o combustível ao estado gasoso. A transformação em líquido, por redução de temperatura e aumento da pressão, facilita o transporte, mas é preciso recuperar o estado natural para consumo.
A UTE Rio Grande travou na liberação ambiental, ante a objeção do Ministério Público Federal em Rio Grande à instalação de um terminal flutuante para descarregar e regaseificar o GNL. Com a queda drástica no preço desse combustível no mercado internacional, por efeito do shale gas, o projeto voltou a atrair interesse.
Uma liminar judicial devolveu ao projeto a autorização para construção (outorga) cassada pela Aneel no ano passado. O grupo Bolognesi se afastou definitivamente do projeto, agora a cargo do conglomerado espanhol Cobra, parte da gigante ACS.