No mercado, a sexta-feira passada (26) lembrou o início de 2020, quando o contágio financeiro se adiantou ao físico e fez o mercado financeiro derreter diante dos riscos do coronavírus.
O desconhecimento, aliado à suposta agressividade da variante Ômicron, com origem na África, espalhou pânico entre autoridades sanitárias e monetárias. A mensagem que trouxe é clara, repetida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em quase todas as entrevistas: enquanto todos não estiverem bem, ninguém estará bem.
Os tombos da sexta-feira ocorreram em todas as latitudes e tipos de mercado: a bolsa de Nova York teve o pior dia do ano e caiu 2,53%, a Nasdaq, de tecnologia, 2,23%. Em Frankfurt (Alemanha), despencou 4,15%, e em Paris (França), afundou 4,75%. É uma amostra do potencial de abalo econômico da nova variante, que será testada a partir de segunda-feira (29).
No Brasil, repetiu-se o pandemônio da pandemia: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou a suspensão de voos e restrição à entrada de viajantes vindos de seis países (África do Sul, Botsuana, primeiro a identificar a nova cepa, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue).
O presidente Jair Bolsonaro chegou a "descartar" a medida, confirmada enfim no sábado à noite, com outros quatro incluídos depois: Angola, Malawi, Moçambique e Zâmbia. Menos mal. Assim como na adesão brasileira à vacina contra a covid-19, as teses negacionistas foram derrotadas.
Mesmo com a ajuda da imunização para que os casos de doença provocados pela Ômicron sejam mais leves, voltou a contaminação para além das fronteiras. Até a tarde de domingo (28), havia presença da nova cepa em 11 nações de quatro continentes. Achar que o coronavírus agora mais "coroado" – a principal mutação é na proteína Spike, que dá essa imagem ao agressor – vá se restringir ao continente africano é equivalente a acreditar que ficaria só na China entre o final de 2019 e o início de 2020.
O mais provável é que a turbulência siga nos mercados até que se entenda melhor o potencial de dano da Ômicron. Um dos motivos é porque a variante pode alterar as projeções que se consolidavam sobre aceleração da redução de estímulos financeiros do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
Obviamente, também desafia a retirada da obrigatoriedade de uso de máscara e a flexibilização crescente de aglomerações. E pode alterar a percepção de que havia voltado a temporada de viagens internacionais. A OMC deu o recado ao cancelar sua conferência mundial. O vírus ensina a todos nós, acima de tudo, a ter menos certezas e mais humildade.