Não foi preciso esperar muito pelo resultado do "anúncio de anúncio" de reajustes dos combustíveis feito ontem pela alta direção da Petrobras, restrito ao óleo diesel.
O anúncio oficial foi feito há pouco, destacando o fato de o preço do diesel não era alterado há 85 dias pela estatal. E depois de tanto tempo, foi um aumento pesado: 8,89%.
Na segunda-feira (28), com o preço do petróleo encostando em US$ 80, houve o que o mais benigno dos analistas chamou de "ruído" entre o presidente Jair Bolsonaro e a Petrobras. Pela manhã, Bolsonaro havia afirmado que estava discutindo com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, "o que podemos fazer para melhorar, diminuir o preço na ponta da linha". Às pressas, a Petrobras convocou coletiva em que seu presidente, Joaquim Silva e Luna, disse que não haveria mudança na política de preços da estatal. E já foi reforçando o "anúncio de anúncio" de alta:
— O patamar elevado do brent (petróleo negociado na Europa e referência para a política de preços da estatal) nos indica necessidade de fazer algum movimento (de preço)".
Embora houvesse, de fato, maior defasagem no diesel, que estava 13,6% abaixo do preço no Golfo do México (EUA), conforme o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), esse também é um combustível mais politicamente inflamável, dados os últimos incidentes que desgastaram a relação de Bolsonaro com os caminhoneiros. O mercado também especula sobre a firmeza do general Silva e Luna na sua cadeira, já que foi uma declaração relacionada à categoria que removeu seu antecessor, Roberto Castello Branco, do cargo.
— O que a Petrobras fez na véspera foi uma vacina contra o intervencionismo. O general surpreendeu o mercado, que temia que tivesse sido indicado para atender aos pedidos de Bolsonaro para segurar preços — disse à coluna Adriano Pires, diretor do CBIE.
Nos cálculos do CBIE até 20 de setembro, o preço nacional da gasolina estava 13,4% abaixo do preço no Golfo do México (EUA), nível de defasagem muito próximo ao do diesel. Segundo Pires, é bom se preparar para uma alta também nesse combustível, que a Petrobras vem reajustando uma vez ao mês, sendo a última em 12 de agosto.
— Não lembro de um governo que tenha dado tanta autonomia à Petrobras quanto Bolsonaro, nem o Temer, que teve de intervir no diesel para acabar com a greve dos caminhoneiros. É verdade que foram criados instrumentos de governança que impedem maior intervenção, mas elementos semelhantes haviam sido criados no governo FHC, pelo (Henri) Reichstul, e foram destruídos pelo PT — observa Pires.
Neste final de semana, ainda havia caminhões rodando com uma bandeira do Brasil, em tecido, cuidadosamente grudada à traseira, sinal de que a "desconvocação" de Bolsonaro à categoria pode ter provocado baixas no apoio maciço ao presidente, mas não o eliminou por completo. Assim como a segunda-feira (27) trouxe um inédito "anúncio de anúncio" de alta de combustíveis, esta terça-feira (28) ainda pode ter desdobramentos nesse tema.
A primeira reação de Brasília não veio do Planalto, mas do fiel aliado de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que criticou a forma como o diretor da Petrobras Claudio Mastella se referiu ao estudo de reajuste e avisou que vai "colocar alternativas em discussão no Colégio de Líderes" na quarta-feira (29).
Nesta terça-feira (29) a cotação do barril do tipo brent passou dos US$ 80 no intraday na bolsa de Londres. A cotação chegou a US$ 80,69, mas declinou e perto do meio-dia em Brasília caiu para US$ 78,90. O contínuo aumento nos preços do petróleo, associado à alta do dólar em relação ao real, vinha aditivando a pressão sobre a Petrobras por reajuste dos combustíveis na refinaria. O novo patamar das cotações reflete a combinação entre restrições na oferta e aumento da demanda com a retomada econômica e a chegada do inverno no Hemisfério Norte.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.