Nesta quinta-feira (9), ficou clara a resposta para o espanto da coluna, que na véspera indagava se o presidente Jair Bolsonaro não havia calculado o risco de atiçar os caminhoneiros contra o Supremo Tribunal Federal (STF). É "não".
Também está claro que Bolsonaro perdeu o controle sobre o movimento. Se na quarta-feira (8) havia "pontos de concentração", agora se trata bloqueio e ameaça, inabaláveis mesmo depois de o presidente ter gravado um vídeo dizendo o que deveria ter pensado antes: a parada é ruim para a economia.
Para engrossar o 7 de Setembro em que fez ameaças golpistas e avisou que está disposto a cometer crime de responsabilidade, Bolsonaro chamou os antigos parceiros de maio de 2018. Convenceu-os, decerto, que os 11 ministros do STF são culpados pelo aumento do diesel e da inflação, pelo risco energético e da estagnação da economia. Agora, não consegue convencê-los de que vai "resolver tudo em Brasília", como disse no vídeo.
Conforme o Ministério da Infraestrutura, há problemas em ao menos 15 Estados. Era só o que faltava no país que passa pelo susto de uma inflação que pode voltar aos dois dígitos. Nas mobilizações que contaram com apoio dos caminhoneiros, Bolsonaro sequer mencionou os problemas da economia que preocupam a grande maioria da população. Não era seu foco.
Ao atacar o STF no 7 de Setembro, o foco de Bolsonaro era sua própria sobrevivência política, tanto que repetiu a frase que provoca arrepios: só vê três saídas para si mesmo, a prisão, a morte ou a vitória. Aceitar uma eventual derrota e atuar na crítica a outro governo, tão necessária no presente quanto foi no passado, sequer passa pela sua cabeça. Seu foco é ele mesmo, sua família e seus seguidores mais radicalizados, patrocinados por quem não tem compromisso com a estabilidade. Ao contrário, tentam espalhar o caos, como fazem agora.
A mobilização de agora não tem o peso da que ocorreu em maio de 2018, porque sua pauta não é baixar preço de combustível, moderar pedágio ou melhorar condições das estradas. Reúne apenas os mais radicalizados, porque a meta é a derrubada do STF, como propôs Bolsonaro a seus parceiros. Diante de dezenas de milhares de pessoas e para todas as câmeras, o presidente avisou que não vai cumprir decisões judiciais. Como vai cobrar agora que seus liderados acatem seus pedidos e as ordens das autoridades. Quem semeia vento colhe tempestade.