Começou com o pedido dos setores que podem ser mais beneficiados pela "esticada" no dia representada pelo horário de verão – bares e restaurantes, principalmente – que foi reforçado na quarta-feira (1º) pela Associação Brasileira dos Shopping Centers (Abrasce).
Mas agora até especialistas em energia, até há pouco céticos sobre os benefícios da medida, aderiram: chegou a hora de retomar o horário de verão.
Em abril de 2019, quando o fuso horário especial foi extinto por canetada do presidente Jair Bolsonaro, a coluna alertou que era uma decisão arriscada, em um país com muita flutuação na atividade econômica e excesso de lentidão para implantar projetos de infraestrutura, especialmente de geração de energia. Não deu outra. A combinação da rápida recuperação da produção industrial – que agora experimenta um tranco, pela escassez de insumos e alta nos custos, inclusive da eletricidade – deixou o Brasil à beira do racionamento outra vez.
Os principais argumentos para o fim do horário foram o deslocamento do horário de pico de consumo, de 18h às 21h para entre 13h30min e 16h, e a consequente menor contribuição para a redução no consumo. A mudança no comportamento e da chamada "ponta de consumo" é um fato, embora até hoje não seja aplicada à complexa tarifação das indústrias.
Mas a maior crise hídrica em 91 anos, a necessidade de acionamento de térmicas e de importação de energia de Uruguai e Argentina fizeram com que o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em pronunciamento à nação, em rede nacional, pedisse às famílias que usassem menos o ferro de passar.
Embora ferros de passar, assim como todos os aparelhos que produzem mudança na temperatura – chuveiro elétrico, geladeira, ar-condicionado – sejam os vilões da conta de luz, seu desligamento não será suficiente para superar a crise energética. Mesmo assim, foi apontado como uma forma de ajuda. Dessa perspectiva, a volta do horário de verão pode proporcionar alívio mais substancial, a essa altura das circunstâncias.
A estimativa é de que a redução da demanda resultante da adoção do horário de verão, atualmente, passe pouco de 1%. Mas o país está em situação na qual qualquer quilowatt-hora (kWh) economizado pode fazer diferença. Não só para evitar o racionamento, mas para reduzir o risco de "apaguinhos", como estão sendo chamados os desligamentos localizados resultantes de desequilíbrios temporários entre oferta e demanda no sistema, hoje no radar de 11 entre 10 especialistas em energia. Que venha, então, o horário de verão.