A intenção do presidente Jair Bolsonaro de acabar com o horário de verão tem, sim, algum fundamento técnico. Especialistas em energia admitem que parte da pressão por reduzir o consumo no horário entre o final da tarde e o início da noite foi reduzida com a extinção das lâmpadas incandescentes e sua substituição pelas fluorescentes. No entanto, iluminação não é o item que representa maior consumo.
A lógica econômica do horário de verão é reduzir também a concentração de chuveiros ligados e acionamento de aparelhos de ar condicionado, esses sim responsáveis por grande demanda de energia elétrica. É preciso considerar, ainda, que desde 2014 o Brasil oscila entre estagnação, recessão e lentíssima retomada, ou seja, a demanda por energia extra ficou extremamente reduzida.
Também por isso houve redução da pressão no chamado "horário de ponta", que equivale ao início da noite sem o fuso temporário de verão. E até por isso, foram discretos os investimentos em novas capacidades de geração nos últimos anos. No diagnóstico de especialistas, nesse momento em que algumas fábricas – grandes consumidoras – ainda estão funcionando e, por outro lado, população que trabalha em serviços começa a chegar em casa, ligar ar-condicionado e chuveiro elétrico.
É essa combinação que pode resultar em sobrecarga na rede elétrica. Se isso ocorre no horário de pico, o sistema fica mais perto do limite de segurança. Quando isso ocorre, podem ocorrer instabilidades que, por sua vez, embutem o risco de apagões pontuais ao longo das linhas, que são dimensionadas para se autoproteger.
Até onde se sabe, o atual governo deseja a volta do crescimento econômico em maior velocidade – começa a pensar em medidas para que isso ocorra. Se e quando isso ocorrer, o horário de verão poderá ajudar a evitar problemas. Conviria que governo brasileiro observasse o comportamento do consumo já em fase de reação antes de eliminar o fuso temporário.