Atualização: a divulgação do documento e das entidades que o apoiam foi adiada para depois do Sete de Setembro. O texto atual já contempla essa informação
Como a coluna tem apontado, a deterioração das expectativas sobre a economia do Brasil relacionada à sucessão de bravatas golpistas de Jair Bolsonaro tem provocado sucessivas manifestações de alerta do empresariado.
A mais recente, que sequer havia sido divulgada, provocou a ameaça de desligamento de Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) se a entidade apoiasse o documento que tem como um dos articuladores o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, até há poucas semanas sólido aliado do presidente.
Até agora, a pressão foi suficiente para adiar a divulgação prevista para terça-feira (31). Agora, Fiesp e Febraban pretender esperar passar o Sete de Setembro, para quando estão previstas manifestações de apoio a Bolsonaro. Mas o documento era apenas um manifesto em defesa da democracia, do equilíbrio entre os poderes da República. A preocupação com os rumos da economia, existente na versão anteriormente preparada pela Febraban, já havia sido retirada com a entrada da Fiesp na articulação.
Este é o maior dos absurdos da situação: as duas instituições históricas, associadas ao nascimento da economia brasileira — o BB foi fundado por Dom João VI em 1808 —, não chancelarem a boa convivência entre os Três Poderes, o reforço à democracia e a busca de melhores condições econômicas.
O segundo absurdo é o fato de duas instituições financeiras públicas — portanto, sustentadas com dinheiro dos impostos de milhões de brasileiros —, cuja finalidade é promover estabilidade econômica e desenvolvimento, contribuírem para a desestabilização do país em momento crítico. No caso do BB, como o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, cansa de lembrar para defender a privatização do banco, o controle é estatal, mas 50% das ações estão no mercado. Os bancos federais não pertencem a Bolsonaro, são da União. São instituições de Estado, não de governo.
O terceiro é que, caso fosse concretizada, a saída de BB e Caixa da Febraban reforçaria o histórico de intervenção do governo em estatais, desta vez nos bancos federais. A leitura do mercado é de que a direção das duas instituições — uma das quais já mudada por interferência presidencial — condicionou as decisões de uma associação privada.
Mas se o governo, com exceção de alfinetadas rasas de Bolsonaro, praticamente ignorou os dois manifestos anteriores, que uniram boa parte da elite econômica do país, por que agora a reação desproporcional veio ainda antes de serem conhecidos os termos do documento?
A principal diferença é exatamente a institucionalização do descontentamento. Nos dois anteriores, os signatários eram pessoas físicas — mesmo assim, algumas foram alvo de retaliações de aliados do governo. Desta vez, havia sido colhido apoio de cerca de 200 entidades representativas de grandes setores da economia, daí a possível adesão da Febraban.
Embora a lista completa de adesão não tenha sido informada, além de Fiesp e Febraban, há especulação de presença de pesos-pesados como Abimaq (do setor de máquinas), Instituto Brasileiro da Árvores (Ibá, de empresas de celulose e papel), Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), que já teve vários participantes entre os signatários do segundo manifesto, Fecomércio, Alshop (de lojistas de shoppings), e até entidades ligadas ao campo, como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
Como era a última versão do manifesto antes da suspensão
A PRAÇA É DOS TRÊS PODERES
"A Praça dos Três Poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos poderes.
Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles.
Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição nos impõe.
As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população.
Mais do que nunca, o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da Nação brasileira."