Indicador muito usado no mercado financeiro, o risco Brasil medido pela variação do Credit Default Swap (CDS) para cinco anos, uma espécie de seguro contra calote, subiu quase 10% nos últimos 30 dias.
Medido em pontos, esse termômetro subiu de 172,8 em 23 de julho, para 189,2 na última sexta-feira (20), ou seja, 9,46% Esse movimento reflete o aumento da desconfiança de investidores estrangeiros em relação ao Brasil.
É resultado do que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chamou de "ruídos recentes", ou seja, o agravamento da tensão institucional provocado pelo presidente Jair Bolsonaro, cujo movimento mais recente é o pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes , que estará na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a partir de agosto de 2022, portanto será o árbitro da corrida sucessória. Da alta de 9,46%, 6,29% foram acumulados na semana anterior, quando o quadro nacional se agravou.
Em 12 meses, o CDS ainda apresenta queda de 15,04% em relação ao período anterior. Isso ocorre porque o recorde histórico do preço dos CDSs de cinco anos para o Brasil foi atingido em 19 de março do ano passado, quando atingiu 374,9 pontos. Na época, houve uma aceleração brutal, porque o mínimo de 91,8 havia sido atingido no mês anterior. Nesse caso, claramente, o motivo foi o início da pandemia de coronavírus.
Quando fala em CDS, a coluna sempre gosta de comprar Brasil e Argentina, nem que seja por "consolo". O nível do risco do país vizinho, neste momento, é de 1.030,95 pontos, ou seja, é cinco vezes maior. Claro, por lá existe risco real de calote, porque há falta de dólares até para as importações e existe uma dívida enorme com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e credores privados.
Mas é curioso: na semana em que o Risco Brasil subiu 6,29%, o da Argentina caiu 7,46%. Nos últimos 30 dias, então, a diferença de comportamento é enorme: a queda por lá chegou a 84,6%. Isso evidencia que, embora a questão global tenha peso no agravamento da percepção sobre o Brasil, não afetou a imagem da Argentina.
Até o ministro da Economia, Paulo Guedes, admite a piora na percepção sobre o Brasil. Na manhã desta segunda-feira (23), em participação virtual no 41º Congresso Internacional da Propriedade Intelectual, afirmou:
— Estávamos realmente decolando, e agora há uma espécie de antecipação das eleições, que, evidentemente, tem impacto sobre as expectativas. Essa antecipação naturalmente prejudica. Causa muito barulho.