Em outubro passado, uma nova retenção de 358 mil pares de calçados na fronteira entre Brasil e Argentina deu o alerta. Nesta segunda-feira (12), a situação precaríssima das reservas internacionais do país vizinho provocou novas medidas de restrição do governo de Alberto Fernández.
Conforme Aderbal Fernandes Lima, coordenador do Conselho de Comércio Exterior da Fiergs, estão restritos pagamentos superiores a US$ 50 mil:
– Vai complicar, com certeza. É um sinal do governo de que é para parar de importar. Há um recrudescimento, com grande probabilidade de volta a prazos maiores das licenças não automáticas, com riscos maiores no recebimento.
As restrições foram adotadas, segundo o governo argentino, para tentar frear a erosão das reservas cambiais do país. O valor líquido desse colchão atualmente está ao redor de US$ 7,5 bilhões. Eram de US$ 10 bilhões quando Fernández tomou posse. Na mais recente informação disponibilizada pelo Banco Central do Brasil, a posição cambial líquida aqui era de US$ 273,79 bilhões em 2 de julho – 36 vezes maior do que a da Argentina.
Como já havia restrições na Argentina, que receberam o nome de "cepo cambiário", essa nova limitação está sendo chamada de "cepo del cepo". O foco imediato das restrições são para compras de títulos em pesos, revenda em moeda estrangeira e depósito fora do país, mas com a demora que representa para um investidor se dolarizar, há tendência de circulação ainda menor de divisas na Argentina.
O coordenador do Conselho de Comércio Exterior pondera que até agora a Argentina vinha liberando as licenças não automáticas de exportação em cerca de duas semanas, o que é considerado aceitável pelos exportadores gaúchos. O problema é que a regra dá 180 dias (seis meses), e a probabilidade de que o prazo seja dilatado cresce com a situação das reservas. Para Lima, a decisão está relacionada ao adiamento das eleições primárias de maio para setembro. Para evitar risco de fuga em massa de capitais, como a que se seguiu às previas de 2018, o governo adotou uma suposta medida preventiva.
– Apesar de a safra de soja ter sido recorde e estar com preço alto, levando um ingresso importante de divisas para a Argentina, a medida requer prazos mais extensos para liberar dólares tenta segurar uma desvalorização descontrolada e, logo, o descontrole da inflação. Outro problema é que sempre que os governos tenta controlar um ativo por decreto, acontece o inverso – adverte Lima.
Nesta segunda-feira (12), o dólar blue, o mercado paralelo local, subiu 3%, para 179 pesos. Ampliou a diferença em relação à cotação oficial para 79%.