A passagem quase incógnita do embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, por Porto Alegre, nesta sexta-feira (30) foi a oportunidade que faltava para a Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados) buscar solução para uma situação que não ocorria há quatro anos.
Conforme o presidente da entidade, Haroldo Ferreira, existem 358 mil pares de calçados parados há mais de 60 dias à espera da concessão da licença não automática de exportação, regra imposta pelo país vizinho pela escassez de dólares.
Segundo Ferreira, Scioli, que assumiu o cargo há poucos meses, está percorrendo o Brasil em busca de aproximação com o setor produtivo. No Estado, esteve na Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) e fez contato com poucos interlocutores, apenas os que têm mais negócios com o país. Diante da queixa dos calçadistas gaúchos, relata o empresário, fez anotações e pediu atenção de assessores.
– Ele não prometeu que vai resolver. Pediu para dar encaminhamento. Acredito que possa haver melhora, até porque ele quer se aproximar do setor industrial.
Segundo Ferreira, o último episódio desse tipo ocorreu no segundo semestre de 2016, ou seja, fazia quatro anos que não havia uma parada tão significativa nas liberações das exportações de calçados brasileiros para a Argentina. O país é o segundo maior comprador de sapatos feitos no Brasil. Até setembro, foram embarcados 5,13 milhões de pares, que geraram US$ 51,35 milhões. Apesar do peso, também houve queda nas vendas para os hermanos, de 30% em volume e 34,8% em valor, considerados os nove primeiros meses deste ano ante igual período de 2019.
Logo que chegou ao Brasil, Scioli propôs a retomada do gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre, como a coluna relatou. Segundo Ferreira, o próprio embaixador disse que seu papel no Brasil é melhorar as relações entre Brasil e Argentina, que azedaram logo depois da eleição de Alberto Fernández. Scioli não é diplomata de carreira, mas político. Foi vice-presidente da Argentina no primeiro mandato de Néstor Kirchner e candidato à Presidência em 2015, quando Maurício Macri venceu a eleição.