Depois de uma trégua de 10 meses, a Argentina volta a causar problemas para os os exportadores brasileiros de calçados. No mês passado, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) recebeu reclamações de associadas sobre a adoção de medidas protecionistas no país vizinho, segundo maior mercado de sapatos no Exterior.
Presidente-executivo da entidade, Heitor Klein explica que as novas barreiras não têm a gravidade da Declaração Juramentada Antecipada de Importações (Djai), que tanto incomodaram durante o governo de Cristina Kirchner, especialmente enquanto Guillermo Moreno esteve na Secretaria de Comércio Interior. Segundo Klein, a barreira que antes era declarada, agora é velada.
O problema voltou a ser, como antes da instituição das Djais, a demora na liberação das licenças, que excede os 60 dias recomendados pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Relatos de distribuidores locais esclarecem que, informalmente, os funcionários encarregados do registro de pedidos de importação não aceitam novas solicitações e informam que, para este ano, não serão liberadas licenças. A alegação é de que as importações de 2016 não poderão exceder o total do ano anterior.
Leia mais
Exportações gaúchas crescem 12% com ajuda do câmbio
Obstáculos para as empresas do Sul cruzarem a fronteira
Avanço do real em relação ao dólar ameaça exportações
Conforme levantamento da Abicalçados, as licenças pendentes já impedem que cargas estimadas em US$ 2,2 milhões cruzem a fronteira. Além desse valor, há outros embarques avaliados em US$ 3 milhões barrados por licenças que não foram sequer protocoladas.
Como muitos produtos são de moda, ou seja, têm um momento para chegar às vitrines, os exportadores correm o risco de perder negócios. Outra preocupação é o fato de a barreira surgir no final de ano, momento de intensificação de vendas no varejo. Isso faz temer um prejuízo superior aos US$ 5,2 milhões avaliados até agora.
Leia outras informações da coluna de Marta Sfredo
De janeiro a setembro, a Argentina comprou o equivalente a US$ 83 milhões em calçados, 51% acima do mesmo período do ano passado. O receio da Abicalçados é de que, com parcas reservas internacionais, o governo argentino passe a reforçar e consolidar barreiras para importações de calçados brasileiros. Conforme a entidade, os ministérios do Desenvolvimento e das Relações Exteriores já foram alertadas sobre o problema.