Último país do Mercosul a obter a independência nacional, em 1828, o Uruguai resolveu ser o primeiro a declarar sua autonomia em relação ao bloco sul-americano. Em comunicado do Ministério das Relações Exteriores, o governo de Luis Lacalle Pou anunciou na quarta-feira (7) que passará a negociar acordos comerciais de forma independente do Mercosul.
Se não houver recuo, o que nesse momento é pouco provável, a agenda de "flexibilização" das regras que exigem consenso sobre tudo e concordância de todos sobre novas parcerias prevaleceu. O Mercosul não será mais como antes.
O anúncio foi feito na véspera da reunião em que a Argentina passaria a presidência rotativa do Mercosul ao Brasil. No encontro virtual na manhã desta quinta-feira (8), houve um previsível embate entre os presidentes Alberto Fernández e Jair Bolsonaro.
O brasileiro afirmou que "tem sede" de novas negociações, que estão travadas. Bolsonaro cometeu um ato falho ao falar "pandemia brasileira" em vez de "presidência brasileira" – ao menos, um sinal de preocupação com o tema. O argentino repetiu várias vezes a palavra "consenso", lembrando que esse conceito integra a espinha dorsal do bloco.
A posição unilateral do Uruguai, sintoma da falta de "consenso" apontada por Fernández, despertou inquietações no setor produtivo. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) disse ver "com preocupação" as tensões entre os sócios. Admitiu que a integração precisa de "ajustes e aperfeiçoamentos", mas ponderou que ainda é a que "mais proporciona resultados econômicos e sociais para o Brasil". Entre os avanços citados, está o acordo com a União Europeia.
Esse é o ponto que mais preocupa. Nas quase duas décadas de negociações, por muitas vezes houve rumores de que os europeus cogitaram quebrar o padrão bloco a bloco e negociar separadamente com os países. Foi preciso vencer a tentação da solução mais fácil para avançar até o fechamento do acordo, logo azedado pela posturas do governo Bolsonaro em relação ao ambiente.
Um sinal de trinca da unidade do Mercosul seria uma dificuldade adicional, justo agora que os europeus se inquietam com a aproximação da China ao bloco e tentam retomar as aprovações da zona de livre-comércio.