Sexto nome da lista de signatários do manifesto Eleições Serão Respeitadas — por ordem alfabética, mas também um dos primeiros aliados — o economista Alexandre Schwartsman integra o Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), onde nasceu o documento em reação às ameaças ao pleito feitas pelo presidente Jair Bolsonaro.
Conforme Schwartsman, a ideia partiu do ex-presidente do Banco Central no governo Temer, Ilan Goldfajn. Na sexta-feira (6), o número de apoiadores passava de 17 mil.
— Há tempo que o grupo têm demonstrado desconforto e mais, insatisfação, com a postura do presidente. As ameaças à ordem democrática foram a gota d'água que motivou a manifestação e a adesão imediata. O peso do número é maior no PIB do que na população, o que é bom, porque ajuda a desmitificar o apoio de empresários ao presidente. Crescentemente, o empresariado não está alinhado ao presidente. E não estamos falando só de mercado financeiro. Entre os apoiadores, tem muita gente dos grupos empresariais industriais brasileiros — detalha.
Informado pela coluna de que os apoiadores do manifesto têm sido chamados de "comunistas", "esquerdopatas" e caracterizados como um grupo de beneficiados nos governos petistas, Schwartsman freia uma impropriedade vernacular:
— O que gostaria de dizer é impublicável. Um dos motivos pelos quais fui demitido do Santander foi a crítica que fazia, especialmente a Guido Mantega e ao pessoal que o cerca, também responsáveis pela situação em que o país está hoje. Tenho propostas que não seriam adotadas por nenhum governo de esquerda no Brasil.
Schwartsman afirma que, além da integridade democrática, os rumos da economia preocupam. Uma das causas da inflação, detalha, é a alta do dólar. Historicamente, quando os preços globais das matérias-primas sobem, como agora, o real se valoriza em relação ao dólar, porque o Brasil é um exportador de commodities. É o que os economistas chamam de "ganhos nos termos de troca".
Só que isso não está acontecendo desta vez. Por quê?
— Há forças empurrando na direção oposta, percepção de descontrole, resultado de um misto de incompetência com limitações impostas pelo presidente, que foi sindicalista de militar durante 30 anos e nunca acreditou em reformas liberais. Depois da reforma da Previdência, nada mais se fez. A administrativa é um projeto ruim, que só melhora a situação do país em 30 anos, e a tributária é quase mais um caso de psicanálise do que análise econômica. Havia um projeto redondo, tecnicamente benfeito, com apoio dos governadores para mudar o ICMS. Foi para o lixo. Sem mexer no ICMS, todo o resto vira band-aid.
Na visão de Schwartsman, falta "sentido de propósito" ao governo. Só o que importa ao presidente, afirma, é a reeleição. Cita a tentativa de deixar os precatórios fora do teto dos gastos, o que tem provocado inquietação nos meios econômicos.
— Só serve para poder gastar mais em programas sociais. Seria bom, mas o objetivo imediato é alavancar a popularidade do presidente. Desculpe, mas não é assim que se faz política econômica.