A sessão da Assembleia que aprovou a dispensa de plebiscito para privatizar Corsan, Banrisul e Procergs nem tinha terminado, e começaram a piscar mensagens de analistas do mercado financeiro à coluna.
Em todas, a pergunta era a mesma: agora o Banrisul será privatizado?
A resposta foi a única disponível, a que o governador Eduardo Leite tem repetido em público: é uma possibilidade, diante das mudanças no sistema bancário, mas não será em seu governo. Os interlocutores, porém, fizeram suas ponderações.
Um dos analistas lembrou que Leite trouxe, para presidir o Banrisul, "uma pessoa do mercado financeiro do Rio de Janeiro" — referência a Claudio Coutinho, que tem passagens pelo BNDES e pelo sistema financeiro privado. A questão levantada é que ele teria perfil para "dar andamento" à venda do banco estadual gaúcho. A coluna repetiu a pergunta a Coutinho, que preferiu não comentar.
Outra réplica ouvida pela coluna fez referência à suposta intenção de Leite disputar a eleição presidencial em 2022. O argumento, nesse caso, foi "vai querer mostrar certas vitrines de seu governo, e as privatizações e o saneamento das contas do Estado são grandes marcas para mostrar". Analistas locais lembraram, ainda, da mudança de posição do governador sobre a privatização da Corsan, ponderando que o mesmo poderia ocorrer em relação ao Banrisul. Em recente entrevista ao Jornal do Comércio, Leite foi peremptório:
— Eu não farei a venda do Banrisul. Não houve mudança de contexto. Sempre disse que cada governo enfrenta os desafios do seu tempo. Os meus envolvem as mudanças nas carreiras dos servidores e privatização de companhias que operam sob regime de concessão. Parece que o cenário do mercado financeiro vai impor essa discussão para o Estado no futuro.
Se no passado a venda do Banrisul já foi condição para adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), o novo secretário de Tesouro Nacional, o gaúcho Jeferson Bittencourt, disse à coluna que as novas regras permitem a adesão rápida do Estado pelo "dever de casa" já realizado.
As ações preferenciais do Banrisul, que têm maior liquidez no mercado, chegaram ao máximo de R$ 22,58 em fevereiro de 2019, no auge das especulações sobre a privatização do banco. Em setembro de 2019, o governo do Estado tentou fazer uma venda adicional de ações, sem abrir mão do controle, mas a operação fracassou por não ter alcançado o valor patrimonial dos papéis.
Em março de 2020, caíram a quase metade desse valor (R$ 11,45) sob temores de impacto da pandemia no sistema financeiro. Nesta quarta-feira (2), fecharam com alta de 5,04%, para R$ 14,16 — sinal do "assanhamento" do mercado com a porteira aberta para a privatização.