Nos dias 22 e 23 deste mês, o Brasil terá uma grande chance para corrigir erros na área ambiental. A cúpula do clima convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está sendo minuciosamente preparada nos bastidores, como é normal nesse tipo de encontro.
Além de recuperar a confiança perdida ante parceiros internacionais, o país está em tempo de impedir um nova temporada de desesperança na Amazônia e no Pantanal, porque se aproxima a época das queimadas, concentradas em julho e agosto.
Na semana passada, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que seu país espera "mais passos concretos" do Brasil no combate às mudanças climáticas e reafirmou que o governo americano está disposto a "apoiar" os esforços do país para preservar a Amazônia. Para lembrar, Biden chegou a acenar com US$ 20 bilhões ao Brasil na campanha eleitoral.
Dias antes, uma fonte não identificada do governo americano havia reforçado que o Brasil precisa restabelecer a confiança para negociar, mesmo recado dado por dois altos diplomatas europeus com cargo e nome: o chefe da delegação da União Europeia no Brasil, Ignácio Ibánez, e o embaixador de Portugal no Brasil, Luis Faro Ramos (leia clicando aqui).
O impasse para o acordo não é se o Brasil aceita ou não compromissos ambientais, mas quando será compensado por isso: o governo americano quer ver metas concretas, e algum resultado, para zerar o desmatamento ilegal até 2030 antes de direcionar recursos, mas o Brasil diz que precisa de dinheiro para agir. No meio disso, há todo tipo de pressão: política, social, ambiental.
Um dos problemas da negociação foi resolvido com a troca de chanceler no Brasil. O discurso de posse do novo ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, foi um bálsamo para ouvidos cansados dos absurdos do antecessor. Restam outros.
Na semana passada, o titular da pasta de Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi à Amazônia acompanhar a apreensão de uma carga de madeira, que teria sido a maior da história do Brasil. Arrumou encrenca com o chefe da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva, que disse à Folha de S.Paulo que era a primeira vez que via um ministro do Meio Ambiente contrariar uma ação que visa proteger a floresta amazônica. Não precisa ser muito imaginativo para entender como o episódio ecoou entre parceiros internacionais do Brasil.
Pelos sinais dados até agora, os americanos não querem invadir a soberania do Brasil sobre a Amazônia: o plano e sua aplicação serão nacionais, com apoio direto dos Estados envolvidos. Mas cobram a aplicação de leis já existentes, como a punição a desmatadores ilegais — mas questionadas pelo presidente Jair Bolsonaro —, e a inclusão de povos indígenas, comunidades tradicionais e organizações não governamentais.
Antes que a Amazônia volte a arder, com efeitos que chegam ao Rio Grande do Sul, como mostrou o colega Luis Felipe dos Santos em reportagem (leia clicando aqui), o Brasil não pode perder essa chance de corrigir seus erros na área ambiental.