Entre 2011 e 2020, o PIB per capita recuou 0,6% ao ano, em média, no Brasil. A variação é idêntica ao pior resultado da série histórica de 120 anos, que havia sido registrado na chamada década perdida de 1981 a 1990. Na prática, o PIB per capita representa um termômetro do padrão de vida. O indicador divide o Produto Interno Bruto (PIB) pela população do país.
Para entender o fraco desempenho e o possível rumo de reação, a coluna conversou com o economista Claudio Considera. O pesquisador do FGV Ibre é um dos responsáveis pelo levantamento.
O que explica a queda do PIB per capita na última década?
O que explica, em parte, é a pandemia, que gerou um desastre e provocou queda no PIB em 2020. Também influenciou muito a recessão de 2014 a 2016. Essa recessão foi a mais longa e mais profunda da história brasileira, com uma série de erros de política econômica. Claro, teve outros desastres na década, como Brumadinho (em 2019) e greve dos caminhoneiros (em 2018).
Houve alguma semelhança com a situação dos anos 1980?
A década de 1980 tem a ver com a dívida externa. Estávamos endividados em dólar. Tivemos de implorar por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Havia uma incapacidade de pagamento. Agora, não temos esse tipo de crise. O que tivemos foi a má gerência da política econômica de 2014 a 2016, além da pandemia em 2020.
A pandemia está se prolongando por falha do governo federal, que não se preocupou em comprar vacinas como deveria. Isso poderia ter sido feito com antecedência. Vários países anteciparam a paralisação de atividades e evitaram a propagação da doença de forma mais intensa.
Além da vacina, quais são as outras medidas importantes para a reação?
A incerteza é muito grande. O país não vai sair desta crise sem investimento público. A equipe econômica acredita que vai haver crescimento espontâneo com a realização de reformas. Não vai haver crescimento espontâneo. Não tem como fazer isso.
O governo vai ter de fazer investimentos para atrair aportes externos. Vai ter de privatizar mais para trazer capital estrangeiro. O governo poderia fazer programas em conjunto com o setor privado na área de infraestrutura, de saneamento. Isso é fundamental.
É possível fazer isso em meio às restrições fiscais?
Tem uma série de dificuldades. Mas é preciso driblá-las, fazer a coisa certa, que é criar empregos. O maior problema, na saída da pandemia, será a grande quantia de gente desempregada. Investimentos na construção civil têm efeito multiplicador na economia. O governo tem de dar uma direção para a economia.
Não adianta, a gente pode ser liberal à vontade, mas chega uma hora em que não há saída. O governo tem de se pronunciar. Isso aconteceu no mundo inteiro em situações de crise. Temos uma dívida forte dentro do país, mas não vamos pagar essa dívida sem produção, sem arrecadação.
Não é economizando mais do que já se economiza. Você pode, por exemplo, congelar o salário de funcionários públicos, não tenho nada contra. Mas achar que é só isso é uma besteira. Sem produção, não se arrecada. Tenho insistido que não vai haver crescimento espontâneo.