Na manhã desta terça-feira (23), o Ministério da Saúde se reuniu com representantes do setor para discutir uma solução para a falta de medicamentos essenciais para pacientes de covid internados em UTI que precisam de assistência respiratória. Entretanto, nenhuma medida foi adotada.
Anestésicos e relaxantes musculares usados na entubação foram alvo de uma requisição administrativa por parte do Ministério da Saúde, e o aumento gigantesco no consumo desse tipo de produto ameaça deixar desabastecidos hospitais privados e filantrópicos, como as Santas Casas.
Conforme Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma, entidade que representa os fabricantes nacionais, as compras passaram de um padrão de 3,5 mil leitos para uso entre três e cinco horas (o tempo de uma cirurgia) para cerca de 12 mil leitos com uso 24 horas por dia.
— É impossível, em um momento como este, fazer estoque de segurança. No ano passado, houve o mesmo problema, e conseguimos resolver rapidamente, em dois, três dias. Resolvemos, via Ministério da Saúde, com a compra centralizada por Estados e municípios. Isso começou a melhorar estoques dos hospitais.
O "problema grave" a que Mussolini se refere é a requisição administrativa feita pelo Ministério da Saúde para esse tipo de medicação, nos mesmos moldes que ocorreu com seringas no ano passado:
— Se fosse compra, a gente consegue acertar o quanto vai entregar. Com requisição administrativa, que pode penalizar gravemente as empresas, não têm outra opção a não ser entregar tudo, gerando falta para os demais. Isso desorganiza o mercado.
Conforme o dirigente, a maior fabricante nacional já ampliou sua produção em quatro vezes ao longo de 2020 e está concluindo mais uma expansão de 20% sobre a capacidade total resultante. Lembra, ainda, que assim como o Brasil, que proibiu exportações desse tipo de medicamento, os demais países fizeram o mesmo, o que torna inviável importar.
— Os hospitais privados tentaram importar, mas não estão achando. Se não racionalizar a entrega, não tem solução para a falta de medicamentos. Não tem o que fazer, porque não tem como racionalizar o uso — pondera Mussolini.
Para o executivo, a Anvisa vem fazendo um bom trabalho, ajudando outras empresas a ampliar a capacidade de produção. Entre outras medidas, afirma, alterou os parâmetros de qualidade para as empresas mais tradicionais, que têm histórico de cumprimento de exigências, com objetivo de acelerar a disponibilidade dos medicamentos, sem risco para a população.
— A saída é desfazer a requisição administrativa e racionalizar a compra. Esse é o verbo que vai salvar vidas no Brasil. Precisamos de decisões racionais, não emocionais — afirma.