A isenção da tarifa de importação sobre seringas e agulhas pode, sim, ajudar no suprimento de insumos para a vacinação, mas há desafios a vencer para que o ritmo de imunização seja mais rápido do que a média dos países até agora.
O gaúcho Sergio Rocha, que preside a Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (Abraidi), avalia que, como a indústria nacional não tem parque instalado suficiente para atender a toda a demanda, a compra no Exterior é uma alternativa viável, mesmo diante do excesso de demanda global. Mas alerta: "vai levar tempo".
Conforme Rocha, que atendeu ao pedido de entrevista da coluna mesmo em férias, zerar a alíquota de importação ajuda a construir uma solução para o momento delicado na logística do Plano Nacional de Imunização (PNI).
– Precisamos de produto e pronto. Se a indústria nacional não dá conta, precisamos achar uma alternativa – diz.
O empresário observa que os fabricantes nacionais já se comprometeram com a entrega de 30 milhões de seringas e agulhas até o final do mês. Nesse ritmo, para alcançar a quantidade necessária de 331 milhões seria preciso esperar 10 meses, com as indústrias trabalhando em tempo integral. O mais provável, detalhou à coluna, é que a importação seja feita pelo próprio governo, abrindo licitação internacional. Mas Rocha adverte, com a experiência de importador de produtos de saúde, que, se não houver qualquer empecilho, a chegada ao Brasil demoraria ao menos três meses.
– Não é assim, vai ali na China e compra 100 milhões de seringas. Isso não existe. Vai ser necessário um esforço do governo para reduzir esses prazos. Será preciso ceder em regras para que seja rápido. Negociar com fornecedores internacionais é o menor problema. O maior é a burocracia. Para começar, vai ser necessária uma autorização da Anvisa, depois tem a complicação da alfândega. Se o governo ceder, pode encurtar esse prazo para entre 45 e 60 dias – avalia Rocha.
Conforme o empresário, até agora o percentual de importação de seringas e agulhas no Brasil é baixo. Cerca de 95% do consumo é abastecido nacionalmente. Na Abraidi, só 12% dos associados trabalham com importação desse material, porque a entidade é mais focada em produtos mais sofisticados. A coluna insistiu na disponibilidade dos produtos, diante do fato de que há vários países vacinando e muitos outros em preparativos.
– Ter, tem. Há grandes fabricantes lá fora. Mas vamos ter de entrar em uma fila. E em uma licitação internacional, certamente vai entrar produto chinês. Mas agora estamos em guerra, é momento de ganhar de qualquer forma. Uma alternativa, para baixar o custo de um transporte aéreo, seria usar aviões da FAB para trazer o material para o Brasil. Acredito que seja possível construir uma solução usando a capacidade da indústria nacional, com fornecimento gradual, à medida que a vacinação ocorra, e complementando com material importado – afirma.